Antes do início da marcha, marcado para as 14:00 mas que começou quase uma hora depois, Sinan Éden, ativista da coligação "Unir Contra o Fracasso Climático", que reúne várias associações cívicas e políticas, referiu que é preciso fazer mais para atingir as metas ambientais.

"Não faz nenhum sentido, neste momento, estar a fazer planos de expansão do terminal de gás no porto de Sines e celebrar que vai investir em gasodutos para a Europa. Em vez disso, neste momento nós precisamos de planos para encerrar infraestruturas com uma transição justa e não deixando os trabalhadores para trás. Esse é o fracasso climático de que estamos a falar", disse aos jornalistas.

Por sua vez, Islene Façanha, da associação Zero, afirmou que ainda há "muita inércia".

"As pessoas precisam de acordar para a proteção do nosso planeta e já estamos a ultrapassar os níveis inimagináveis para o aumento da temperatura", registou, à Lusa, alertando que haverá "consequências muito graves para os ecossistemas".

Face à proibição de combustíveis fósseis, que foi pedida pelos manifestantes durante a tarde, Islene Façanha considerou que, "apesar de a mudança custar um bocado", as alterações são "úteis para salvaguardar o planeta e as pessoas em geral".

"Combustíveis fósseis, com o sistema que temos atualmente -- que explora pessoas e recursos --, já vimos que não funciona", concluiu.

A iniciativa, entre o Campo Pequeno e o Liceu Camões, ficou marcada por três paragens: uma na Avenida Defensores de Chaves, outra no cruzamento entre a Avenida João Crisóstomo e a rua Dona Filipa de Vilhena, e, por fim, numa rotunda no fim desta.

Na primeira paragem, vários manifestantes invadiram um edifício onde se encontrava o ministro da Economia, num evento privado num espaço cedido pela Ordem dos Contabilistas a uma organização, tendo sido chamadas as forças de segurança.

Duas unidades das forças de segurança entraram dentro do prédio, sendo os manifestantes retirados, alguns deles arrastados pelas forças de segurança, enquanto cerca de 20 elementos formavam um cordão à entrada do edifício.

Um dos manifestantes que entrou dentro do edifício foi William Hawkey, que referiu que "houve pessoas que quiseram lutar até ao ultimo minuto, como houve pessoas que entraram em pânico, e livremente disseram 'vou-me embora com calma'".

De acordo com Hawkey, "o ministro estava meio escondido atrás dos seus colegas", tendo tentado "manter a sua postura".

William Hawkey afirmou que o ministro se escondeu e se recusou a olhar para os ativistas, tendo "tentado esconder a cara ao máximo".

Os ativistas que entraram dentro do edifício acabaram por sair sem serem identificados, tendo William Hawkey atribuído à polícia "fortes abusos".

"Havia um enorme excesso de polícias -- fosse cá fora ou lá dentro. Entendemos que estavam a fazer o seu trabalho, mas foram usados instrumentos de metal para retirar pessoas que estavam juntas. Acertaram num dos nossos ativistas no pescoço, que está agora com o pescoço completamente inchado e vermelho", afirmou.

Em comunicado enviado à Lusa, a Ordem dos Contabilistas Certificados esclareceu que "a invasão do seu auditório ocorreu durante um evento de uma entidade terceira, a quem a Ordem cedeu as instalações, sendo a organização da inteira responsabilidade dessa entidade", tendo ainda agradecido "a rápida intervenção das autoridades policiais".

À chegada ao Liceu Camões, pelas 16:30, vários jovens que já se encontravam no interior replicavam os cânticos que se fizeram ouvir ao longo da marcha, onde pediam o fim dos combustíveis fósseis.

A marcha pelo clima foi organizada pela coligação "Unir Contra o Fracasso Climático", da qual fazem parte o Climáximo, DiEM25, Greve Climática Estudantil -- Lisboa, Sciaena, Scientist Rebellion Portugal, Último Recurso, UMAR -- União de Mulheres Alternativa e Resposta e a Zero -- Associação Sistema Terrestre Sustentável.

Desde segunda-feira, o movimento Greve Climática Estudantil Lisboa iniciou um protesto que incluiu a ocupação de seis escolas e universidades de Lisboa -- incluindo o Liceu Camões --, iniciativa que visa exigir o fim aos combustíveis fósseis até 2030 e a demissão do ministro da Economia e do Mar.

As ocupações coincidem com a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), que decorre desde domingo em Sharm el-Sheikh, no Egito, até ao próximo dia 18.

JO (AAT/PFT) // CSJ

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