"A evolução da situação global, com mudanças sem precedentes em muito tempo e uma tendência para maior complexidade do ambiente externo, terá um maior impacto no nosso país em áreas como o comércio, a ciência e a tecnologia", disse hoje o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, ao apresentar o seu relatório de trabalho à Assembleia Popular Nacional (APN), no início da sua sessão plenária anual.

Segundo Li, o "unilateralismo e o protecionismo", bem como as "obstruções ao regime comercial multilateral" ou o "aumento das barreiras tarifárias" são "um ataque à estabilidade das cadeias setoriais e de abastecimento globais que dificultam a circulação económica internacional".

"Vários fatores de tensão geopolítica afetam as expectativas do mercado mundial e a confiança nos investimentos e aumentam os riscos de flutuação no mercado internacional", acrescentou.

Em resposta, ele afirmou que o país asiático deve "enfrentar estas dificuldades e problemas", mas também "reforçar a fé no seu próprio desenvolvimento", porque "a China tem uma vantagem institucional notável", bem como um "vasto mercado, recursos humanos abundantes e mecanismos de governação eficazes no planeamento a longo prazo".

A sessão plenária da APN, descrita por Pequim como o "supremo órgão do poder de Estado na China" e a "expressão máxima da democracia socialista", arrancou hoje, com a leitura do relatório do governo, e decorre até 11 de março.

Entre os delegados está a elite política, líderes empresariais, tecnológicos, mediáticos e artísticos do país asiático, que vão aprovar novas leis, nomeações políticas e relatórios de trabalho do Governo, que detalham o progresso de vários departamentos e ministérios. O orçamento para a Defesa é, habitualmente, anunciado também no primeiro dia.

O evento coincide este ano com o agravamento da guerra comercial entre Pequim e Washington, o que torna mais urgente para a China estimular o consumo interno.

Nos últimos anos, as exportações foram o principal motor de crescimento da economia chinesa, mas as medidas protecionistas adotadas pelos Estados Unidos e outros parceiros comerciais obrigam os líderes chineses a priorizar a expansão da procura interna.

Pequim retaliou na terça-feira com taxas alfandegárias adicionais de até 15% sobre produtos agrícolas dos Estados Unidos, incluindo trigo, soja e carne de vaca, em resposta às taxas adicionais de 20% que os EUA começaram a aplicar sobre as importações chinesas.

Na sua primeira presidência (2017-2021), Trump teve já uma relação tensa com Pequim, impondo várias rondas de taxas sobre centenas de milhares de milhões de dólares de importações oriundas da China, às quais o país asiático retaliou com taxas sobre as importações de produtos norte-americanos.

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