"África e o olhar interior" foi tema da primeira mesa-redonda da "Conferência Internacional Pensar África", que se iniciou hoje na capital angolana e decorre até quarta-feira.

Para Nelson Pestana, diretor do Centro de Estudos Africanos (CEA) da Universidade Católica de Angola (Ucan), pensar África coloca "desde logo um problema metodológico e substantivo".

"A nossa escolha é o método crítico e genealógico, é uma crítica permanente baseada num olhar evolutivo, então, nós estamos perante duas Áfricas: uma África imaginada e uma África real", disse Nelson Pestana.

"A África imaginada é uma África homogénea, autêntica ao abrigo da inculturação e em constante interação com os povos. A África real é heterogénea, é plural, está em constantes trocas de empréstimo com outros espaços de cultura", afirmou o diretor do CEA.

Segundo Emmanuel Natakarutimana, docente do Burundi e um dos oradores no encontro, é "urgente" a transformação dos recursos e infraestruturas do continente africano em benefício dos povos, considerando que os problemas africanos "precisam de soluções africanas".

"Porque, por exemplo, as fronteiras físicas e imaginárias em África são também problemas que prevalecem e derivam em conflitos que precisam de ser acautelados", frisou.

Natakarutimana lamentou também, na sua intervenção, o conflito que opõe o Ruanda e a República Democrática do Congo, e enalteceu as ações do Presidente angolano, João Lourenço, para a pacificação da região.

A "Conferência Internacional Pensar África" é oeganizada pela Mosaiko -- Instituto Angolano para a Cidadania em parceria com o CEA e decorre até quarta-feira, na capital angolana.

A reitora da Ucan, Maria de Assunção, disse, na abertura do encontro, que pensar África é um tema muito sugestivo e provocador, sobretudo num contexto de enormes desafios que se colocam hoje a África.

Enumerou a sustentabilidade económica de cada Estado africano, a assunção da democracia pluripartidária, o saneamento básico, a melhoria do sistema de saúde, educação, redução da corrupção e outros como os "enormes desafios" com que África ainda se debate.

Para Maria da Assunção, África tem igualmente desafios de "criar políticas estimulantes no sentido de manter os intelectuais africanos, jovens e veteranos, pondo o fim ao drama a que assistimos, impávida e serenamente, da morte de centenas de milhares de jovens africanos" no Mar Mediterrâneo.

"Num tal contexto, pensar África é um exercício que se impõe a todos os africanos, tanto no plano individual, quanto no plano coletivo. Trata-se, em meu entender, de um exercício, não só saudável, mas sobretudo recomendável", defendeu.

África e olhar interior e identidades africanas são os painéis temáticas agendados para o primeiro dia da "Conferência Internacional Pensar África".

DYAS // JH

Lusa/Fim