"Os meus sobrinhos sumiram da nossa aldeia Nova Zambézia, na noite de terça-feira" disse um tio das crianças.

O homem suspeita que os menores com 11, 14 e 16 anos tenham sido sequestrados naquela aldeia do distrito de Macomia, centro de Cabo Delgado, pelo grupo rebelde que invadiu uma base militar na mesma noite.

"Não temos informações de nada, estamos à espera que apareçam logo", diz o familiar, esperando que, "se estiverem na posse de terroristas, que eles não lhes façam mal".

Este trata-se do mais recente relato de sequestro de crianças e jovens, cujas descrições têm sido frequentes ao longo do conflito em Cabo Delgado, que dura há quatro anos e meio, e no qual jovens e menores têm sido usados como soldados por forças insurgentes.

Os sinais de violência persistem em Macomia, apesar da ofensiva militar contra os rebeldes, disseram outras fontes locais à Lusa.

A vila de Macomia tem continuado a receber, nos últimos dias, famílias deslocadas que fogem de confrontos na zona da Nova Zambézia.

"Estamos mal: mesmo aquelas que viviam nos acampamentos, a fazer machamba", ou seja, a tentar tratar de campos agrícolas para garantir comida, "estão a sair", disse uma fonte.

"As crianças não vão à escola, estamos a tentar reintegrá-las aqui mesmo em Macomia, mas estamos com medo de nos atacarem de novo aqui", concluiu a mesma fonte.

A vila de Macomia, a 200 quilómetros da capital provincial, Pemba, já foi invadida em 2020 por grupos rebeldes, que a ocupou durante alguns dias, levando a uma debandada dos residentes.

Desde julho de 2021, quando começou a ofensiva militar com apoio estrangeiro que tem desagregado a insurgência, grupos dispersos de rebeldes têm deambulado por distritos de Cabo Delgado, tais como Macomia e Meluco, provocando ataques dispersos contra aldeias.

A província de Cabo Delgado, rica em gás natural, tem sido afetada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 859 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.

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