
Sem querer partilhar detalhes sobre o programa deste 04 de junho, que ainda pode ser alterado, Ng Kuok Cheong referiu à Lusa que as pessoas a quem se vai juntar para marcar o 36.º aniversário de Tiananmen "preferem não fazê-lo em Macau", por receio de uma eventual ação policial.
"Não querem fazer nada em Macau e pediram para me juntar", acrescentou Ng, um dos fundadores da extinta União de Macau para o Desenvolvimento da Democracia (UMDD), que costumava organizar, anualmente, uma exposição fotográfica itinerante e uma vigília noturna em espaço público.
Em 04 de junho de 1989, o exército chinês avançou com tanques para dispersar na praça de Tiananmen, em Pequim, protestos pacíficos liderados por estudantes, que pediam reformas democráticas para o país, causando um número de mortos que ainda hoje é objeto de discussão.
Estimativas chegam às dez mil vítimas, embora a posição oficial de Pequim seja que a repressão dos "tumultos contrarrevolucionários" tenha levado à morte de duas centenas de civis.
Durante décadas, Hong Kong e Macau foram os únicos locais em solo chinês onde o movimento de repressão foi lembrado de forma pacífica, com vigílias anuais que, no caso de Hong Kong, reuniam dezenas de milhares de cidadãos.
Desde 2020, as autoridades de Macau proibiram a vigília, invocando a necessidade de proteger a saúde pública no contexto da pandemia de covid-19. Uma decisão que marcou um ponto de viragem na história da celebração nestas duas regiões administrativas especiais.
Em 2021, a polícia de Macau citou pela primeira vez razões políticas para interditar a comemoração, uma decisão validada posteriormente pelo Tribunal de Última Instância, que rejeitou um recurso apresentado pela UMDD.
Em maio de 2023, os responsáveis da UMDD decidiram extinguir a associação, "tendo em conta a revisão da lei de segurança nacional e a imprevisibilidade do futuro", disse na altura à Lusa o também antigo deputado Au Kam San.
Questionado sobre se as novas gerações conhecem este episódio da história chinesa, Ng Kuok Cheong sublinhou que as pessoas a quem se vai juntar "são jovens" que, por experiência, "querem discutir a história, mas não em Macau".
Ng Kuok Cheong e Au Kam San são dois dos 21 candidatos ao parlamento de Macau que, em 2021, foram excluídos pela comissão eleitoral por "não defenderem a Lei Básica", a 'mini-constituição' de Macau, e não serem "fiéis à RAEM [Região Administrativa Especial de Macau]".
O chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, advertiu na terça-feira que "todas as atividades" organizadas naquele território devem respeitar a lei e que os atos que comprometam a segurança nacional vão ser considerados crimes graves e enfrentam uma resposta policial "imediata e severa".
Em conferência de imprensa, Lee foi questionado sobre a possibilidade de os habitantes de Hong Kong assinalarem o 04 de junho com vigílias ou "roupas com slogans alusivos" ao dia.
Sem entrar em detalhes, Lee insistiu que não vão ser toleradas infrações, especialmente as que infrinjam a lei de segurança nacional, imposta por Pequim em 2020, após gigantes - e por vezes violentas - manifestações antigovernamentais.
Questionado sobre se visitar o Parque Victoria, cenário histórico das vigílias pelas vítimas de Tiananmen, poderia implicar uma violação legal, o governante limitou-se a enfatizar o cumprimento obrigatório da regulamentação em vigor.
A pergunta surgiu após denúncias de ativistas, que relataram ter recebido chamadas das forças da autoridade a indagar sobre se tinham planos para hoje.
Este ano, entre 01 e 05 de junho, grupos patriotas de Hong Kong realizam, pelo terceiro ano consecutivo um evento no Parque Victoria, que vai incluir tecnologia, uma competição desportiva, culinária tradicional e espetáculos culturais.
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Lusa/Fim
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