"Nenhum tirano nos irá escravizar, pedra a pedra construímos um novo dia", foi uma das muitas palavras de ordem gritadas pelos manifestantes que hoje pintaram a praça do Marquês de Pombal, em Lisboa, com as cores da bandeira de Moçambique.
Depois de ter juntado dezenas de pessoas há cerca de uma semana, a instabilidade que se vive em Moçambique desde as eleições de outubro, e após a Comissão Nacional de Eleições (CNE) moçambicana anunciar a vitória da Frelimo, motivou um novo protesto em Lisboa.
"Estamos a contestar as fraudes eleitorais, que são várias, infelizmente", explicou à Lusa um dos elementos da organização, Nelson Melo.
Contando que tem acompanhado a situação no seu país sobretudo através das redes sociais devido à "censura nos media", Nelson Melo manifestou a preocupação constante com os seus amigos e familiares e alertou que "as pessoas estão em perigo, mas é o futuro do país que está em jogo".
Hércio Chiziane vive em Portugal há cerca de 10 anos, mas fez questão de participar na manifestação rodeado de familiares e amigos. De Moçambique -- contou à Lusa -- nem todos os dias recebe notícias da família.
"As pessoas estão cheias de medo, mas isso não faz com que não saiam à rua. Isto é uma luta pela liberdade, pela libertação de um povo", afirmou.
Para Hércio Chiziane, o país está a viver um momento histórico, em que se abriu uma "atmosfera para a revolução", após o que considera terem sido décadas de fraude eleitoral.
"É muito claro que o momento de revolução de Moçambique chegou. Não há como este Governo continuar no poder", defendeu.
Segundo a CNE, o candidato presidencial Venâncio Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este afirmou não reconhecer os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional, que não tem prazos para esse efeito e ainda está a analisar o contencioso.
Após protestos nas ruas que paralisaram o país nos dias 21, 24 e 25 de outubro, Mondlane convocou novamente a população para uma paralisação geral de sete dias, desde 31 de outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo na quinta-feira, 07 de novembro, que provocou o caos na capital, com diversas barricadas, pneus em chamas e disparos de tiros e gás lacrimogéneo pela polícia, durante todo o dia, para dispersar.
"Os 20% pararam o país, estão além-fronteira a fazer barulho. O mundo parou para ouvir os 20%", disse outra das manifestantes, Jorema Fernando, contestando a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos.
Em Portugal há pouco mais de dois anos, Jorema Fernando olha com tristeza para a situação em Moçambique: "É devastador, estamos a viver um caos". No entanto, diz nunca ter visto os seus compatriotas tão unidos "em busca da justiça eleitoral".
Antes de iniciarem a marcha em direção à sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, os cerca de 50 manifestantes fizeram um minuto de silêncio em homenagem às vítimas nas manifestações dos últimos dias.
"Vai haver um tempo para chorarmos os nossos mortos, mas agora não nos vamos calar e não vamos parar", prometeu Hércio Chiziane.
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