Segundo os dados divulgados pelo Eurostat, o Produto Interno Bruto (PIB) da zona euro aumentou 0,7% em 2024 e o da União Europeia 0,8%. Entre os países da zona euro, Portugal apresentou, no quarto trimestre de 2024, o terceiro maior crescimento homólogo do PIB (2,7%), depois da Lituânia (3,6%) e de Espanha (3,5%) e o maior na variação trimestral (1,5%), com Espanha em terceiro (0,8%).
Por outro lado, as economias da Alemanha, conhecida como o motor da Europa, e da Áustria foram as que mais recuaram na variação homóloga, com uma contração de 0,2%. Já na variação trimestral, as maiores quebras observaram-se na Irlanda, Alemanha e França.
Portugal e Espanha estão, assim, entre as economias com melhor desempenho, tendo representado cerca de 50% do crescimento do euro no último trimestre do ano, segundo analistas da JP Morgan.
As perspetivas são para que estas economias ibéricas sigam a tendência: "Esperamos que as economias espanhola e portuguesa continuem a ter um desempenho claramente superior numa zona euro em dificuldades este ano", salienta uma nota de análise da Oxford Economics.
Além disso, ambos os países reduziram as suas vulnerabilidades macrofinanceiras de longa data. "Uma melhoria das perspetivas demográficas também significa que estamos mais otimistas em relação ao crescimento a longo prazo de Espanha e Portugal do que outras economias periféricas", notam os economistas.
"O crescimento está a ser impulsionado por alguns fatores comuns, tais como a natureza orientada para os serviços de ambas as economias, a expansão dos setores do turismo e os fortes fluxos migratórios líquidos", que permitem crescimento populacional, salientam.
Para Filipe Grilo, especialista em Economia da Porto Business School, o "crescimento diferenciado destas duas economias em relação ao restante espaço europeu pode ser explicado por três grandes conjuntos de fatores: a estrutura económica, os custos energéticos e fatores conjunturais específicos", segundo indica à Lusa.
Economias mais orientadas para os serviços do que para a indústria contribuem para este desempenho, bem como a menor exposição ao choque energético provocado pela guerra na Ucrânia, afirma o economista.
Além disso, outro fator é a imigração, que "tem sido fundamental para sustentar o crescimento dos serviços, sobretudo os de menor valor acrescentado", diz.
Ricardo Ferraz, professor no ISEG e na Universidade Lusófona, também destaca, em declarações à Lusa, que "o consumo das famílias teve um papel decisivo no desempenho da economia portuguesa, e que o turismo terá voltado a dar um contribuído importante", com o mesmo a aplicar-se ao caso espanhol.
"As projeções apontam para que Portugal e Espanha voltem a crescer este ano à boleia do consumo privado e do turismo, sendo também esperada uma aceleração do investimento", avança o economista. Pelo que, "não sucedendo nenhuma catástrofe, os próximos anos deverão continuar a traduzir-se em aumentos dos rendimentos das famílias, o que alimentará o consumo privado, e num bom desempenho do turismo (ambas as economias beneficiam de excelentes condições enquanto destinos turísticos)".
No entanto, ressalva que "os grandes motores da zona euro estão a marcar passo", e por isso, "Portugal não pode contentar-se com o facto de estar a crescer acima da média europeia, dado que essa média é baixa", defende o economista.
Os analistas da Oxford Economics dizem também que ainda preveem "pouca convergência adicional para os níveis de rendimento 'per capita' da zona euro para Espanha e Portugal".
"A prevalência de empregos de baixo valor acrescentado, mantendo a produtividade baixa e o fraco investimento prolongado, serão fatores-chave que atrasarão as suas perspetivas a longo prazo", defendem.
Quanto ao impacto deste novo equilíbrio nas economias da zona euro, Filipe Grilo admite que o crescimento português "dificilmente terá um impacto económico significativo noutros países, como a cadeia de valor dos setores que mais crescem em Portugal e Espanha não está fortemente interligada com os restantes países europeus".
Ainda assim, é possível existir um efeito político, já que "se o diferencial de preço da eletricidade persistir, poderá gerar pressão política para que França desbloqueie o acesso do resto da Europa à energia produzida na Península Ibérica".
MES (IG) // MSF
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