Esta troca de argumentos ocorreu no parlamento, durante uma interpelação do BE ao Governo sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS), altura em que a deputada Joana Mortágua acusou Ana Paula Martins de se desresponsabilizar dos problemas no setor.
"A senhora ministra vem aqui e não é nada consigo. É incompetência alheia, incompetência passada, incompetência lateral. A senhora ministra não assume uma única responsabilidade e portanto quem é que manda? Porque eu quero falar com quem manda", interrogou a bloquista, antes de classificar Ana Paula Martins como "a pior ministra deste Governo".
Na resposta, Ana Paula Martins afirmou que "a responsabilidade do que se passa na Saúde" é sua e que "não tem problema nenhum em ser a pior ministra do Governo" porque isso significa que "os outros são os melhores, e é um grande Governo".
"Dizem por aí que eu estou a prazo. Estou sim senhor, estamos todos, os senhores também estão. Porque numa democracia estamos todos a prazo, estamos todos sujeitos à avaliação do povo. Não tenho nenhum problema em estar a prazo porque no dia em que deixar de ser ministra virá outro que fará certamente melhor do que eu", respondeu.
Depois de Joana Mortágua ter alegado que o seu discurso tinha sido elaborado por uma "empresa de comunicação do PSD", Ana Paula Martins respondeu: "Tenho uma vida pela frente, tenho percurso académico e registo contributivo longo e sei escrever. Não preciso que ninguém me escreva discursos".
Este foi um dos momentos mais tensos de um debate que durou cerca de três horas e no qual BE, Livre e PAN insistiram que as administrações hospitalares deviam ser nomeadas através de concurso público -- ideia rejeitada pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, no debate quinzenal na quarta-feira.
Pelo Livre, o deputado Paulo Muacho argumentou que "as administrações das ULS e hospitais não devem ser comissários políticos do governo" e Inês Sousa Real, do PAN, afirmou que "o SNS tem sofrido de uma doença crónica que se pode apelidar de partidarização".
Sobre esta matéria, o social-democrata Alberto Machado defendeu que é legítimo que o Governo escolha as administrações hospitalares que estejam em linha com os seus objetivos e acusou o PS de ter nomeado "à pressa, em período eleitoral", nos últimos meses do anterior governo, 28 conselhos de administração.
A bancada do PSD defendeu várias vezes a conduta da ministra da Saúde, que aplaudiu várias vezes, e até de pé, em alguns momentos do debate.
Pela IL, o deputado Mário Amorim Lopes defendeu que "é preciso descolonizar a administração pública que o PS colonizou" mas alertou o executivo que "os bons têm que ficar".
Da bancada do PS -- que foi fortemente criticada pelo BE pela sua atuação na saúde, e que levou ao chumbo do Orçamento do Estado para 2022 -- Mariana Vieira da Silva alertou os bloquistas de que não se pode confundir a atuação de socialistas e social-democratas nesta área.
"O PS nunca deixou de fazer protocolos com o setor privado quando eles eram necessários para complementar ou atuar supletivamente face às responsabilidades do Estado. O PSD não é isso que faz: pega em hospitais em que houve milhões de euros de investimento e quer devolvê-los às misericórdias e quer criar listas com utentes selecionados pelos privados", defendeu, acusando a tutela de "instabilidade, opacidade e incapacidade".
O deputado do Chega Rui Cristina defendeu que "a degradação do serviço público não é inevitável", acusando a esquerda de ter uma "visão sectária".
Já a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, considerou que o Governo está mais preocupado com "trocas de lugares e cadeiras" e afirmou que não são com "os elevados decibéis da ministra que os problemas vão ficar resolvidos".
ARL/PC // JPS
Lusa/Fim
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