A exposição, a última antes do início das obras de ampliação em 2025, apresenta o fado a cruzar-se com as artes plásticas em sucessivas épocas, desde o século XIX, quando a guitarra portuguesa começou a predominar no ambiente musical lisboeta.
Em declarações à agência Lusa, a diretora do museu, Sara Pereira, disse que "há uma presença contínua do fado, convocado por diversas gerações de artistas, no quadro de linguagens muito diversas, de motivações simbólicas e estéticas muito distintas".
A exposição abre com "a nossa pintura de costumes do século XVIII, de Alexandre Jean Noël [1752-1843], que faz parte daquela leva de artistas e viajantes que se fixaram em Lisboa na segunda metade do século XVIII, e que fixaram as práticas musicais de Lisboa".
Do pintor francês estão patentes duas telas sobre a prática da viola em ambiente portuário.
Seguindo o percurso expositivo, "entramos no século XIX, com as imagens de Rafael Bordalo Pinheiro [1846-1905] que tem um legado fundamental para documentar o fado no século XIX, como prática tocada e cantada, mas também dançada".
Da exposição fazem ainda parte, entre outras, uma pintura de costumes, "Festa na Aldeia", de Leonel Marques Pereira (1828-1892), em que se vê uma guitarra portuguesa a animar um baile popular.
"Já no século XX encontramos vários estudos para a obra 'O Fado', de José Malhoa [1855-1933], com vários estudos que nos permitem perceber que o pintor pensou inicialmente em fazer um tríptico, estudos a carvão da figura de Amâncio [uma das personagens do quadro a óleo], um outro estudo em que reduz o plano, mas introduziu uma terceira figura".
A tela a óleo "O Fado", de José Malhoa, representa um tocador de guitarra, Amâncio, e a sua amante referida como 'Adelaide da Facada'. O pintor executou dois quadros similares, um datado de 1909 e outro de 1910, e ambos se encontram expostos.
O quadro de 1910, muito apreciado na época, foi exposto além-fronteiras e inspirou um dos fados criados por Amália Rodrigues, "Fado Malhoa" (José Galhardo/Frederico Valério). Este quadro já faz parte do núcleo expositivo do museu, o de 1909 é de uma coleção particular.
A exposição inclui uma carta de José Malhoa, datada de 1917, quando a Câmara de Lisboa decidiu adquirir o quadro de 1910, o que espoletou "uma considerável polémica na imprensa". O pintor reagiu numa carta à autarquia, em que nomeia "os vários prémios que a obra recebeu por esse mundo fora, e faz uma defesa da sua obra, muito interessante", contou Sara Pereira à Lusa.
Junto a estes dois quadros encontra-se uma pintura de Amadeo de Souza-Cardozo (1887-1918), na qual faz 'sangrar' uma guitarra "no que alguns historiadores veem como uma reação à persistência do gosto naturalista" em Portugal.
A exposição inclui ainda trabalhos de Almada Negreiros e Eduardo Viana, de figuras do 'Segundo Modernismo' como Francis Smith e Dominguez Alvarez, e da escola naturalista da segunda metade do século XIX e viragem para o século XX, nomeadamente Carlos Reis, Roque Gameiro, Eduardo Moura, Alberto Souza.
A fadista Amália Rodrigues [1920-1999) é uma das representadas na exposição com duas telas de Eduardo Malta, obras de Leonel Moura e um retrato pintado por Maluda.
Há um núcleo expositivo que se destaca "pela rejeição crítica que os seus autores fazem em relação ao fado, como é o caso de Cândido da Costa Pinto, o 'anti-fadismo', e outros exemplos onde a visão do fado é essencialmente crítica, como as caricaturas de João Abel Manta, de 1977".
A mostra inclui cerâmica do século XIX, várias obras de Júlio Pomar e de João Vieira que expôs, em 2005, "Fado Português", tela que "faz uma rememoriação do quadro de Malhoa, com muito humor".
A exposição "Imagens do Fado", com cerca de 60 obras, fica patente até 23 de março de 2025.
Está é a última exposição temporária do Museu do Fado antes do início das obras de ampliação, a realizar em 2025, sobre as quais Sara Pereira remeteu informações "a seu tempo".
A diretora adiantou no entanto à Lusa que está prevista uma ampliação do circuito museológico, dos espaços de armazenamento, das reservas e dos serviços educativos. O projeto arquitetónico está a cargo do ateliê Santa-Rita, o mesmo que transformou o edifício em museu, inaugurado em setembro de 1998.
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