"É muito acima de inviabilizar uma governação, é uma questão de estarmos a inviabilizar, nós próprios, como moçambicanos, o desenvolvimento do nosso país. E temos todos que repensar como é que queremos que o nosso país ande para a frente em situações como esta", afirmou a porta-voz da comissão política do partido, no poder, Ludmila Maguni, após uma reunião ordinária daquele órgão, realizada hoje em Maputo.
"Devemos todos encontrar uma solução", apelou, questionada pelos jornalistas no final da reunião, reconhecendo que além dos impactos económicos dos protestos, são também as famílias que "são afetadas".
Estes protestos e bloqueios têm acontecido desde quinta-feira, essencialmente em vias portajadas no acesso a Maputo em que durante várias semanas não se cobraram portagens devido às manifestações pós eleitorais.
O bloqueio de hoje das portagens de Maputo da N4, principal via de acesso à capital moçambicana e que liga à África do Sul, terminou cerca das 17:30 (15:30 em Lisboa), após mais de dez horas.
Alguns transportadores que tinham bloqueado a via pouco depois das 07:00 locais, usando um camião cisterna como escudo para evitar a intervenção da polícia, começaram a retirar as viaturas passavam alguns minutos das 17:00 locais, pacificamente, e em menos de 30 minutos a circulação ficou praticamente reposta, com a polícia a tomar conta da via, para evitar novos cortes.
Durante mais de dez horas, a polícia, com um forte aparato no local, evitou utilizar a força para desmobilizar o protesto contra a retoma da cobrança de portagens, face ao camião cisterna utilizado pelos manifestantes, que o imobilizaram, furando os pneus, a poucas dezenas de metros da praça das portagens da N4, da concessionária sul-africana TRAC.
A desmobilização foi voluntária, tendo a polícia tentado, ao longo de todo o dia, sem sucesso, negociar a saída dos manifestantes, que também chegaram a vandalizar parte das instalações da TRAC.
Rapidamente, dezenas de viaturas imobilizadas ao longo de várias horas, incluindo camiões com carga para a África do Sul, retomaram a circulação naquela estrada, que além de ligar à fronteira é o único acesso direto entre Maputo e Matola, as duas maiores cidades do país, mas na generalidade das cabinas não se cobrava portagem.
As instalações da TRAC, sem funcionários no interior, permaneceram durante o dia sob vigilância da polícia, com um blindado da Unidade de Intervenção Rápida na porta, enquanto na N4, ao lado, agentes da UIR chegaram a realizar disparos e lançaram gás lacrimogéneo para travar novos bloqueios.
A cobrança de portagens naquela via ficou suspensa durante semanas, devido às manifestações pós-eleitorais em Moçambique, e foi retomada na passada quinta-feira.
Desde que foi retomada a cobrança naquela via, estrutural para escoar as exportações sul-africanas de minério, a circulação tem estado condicionada por protestos e automobilistas que forçam as cancelas para passar sem pagar, o que levou a concessionária TRAC a instalar correntes junto às cabines de pagamento.
O antigo candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou em dezembro ao não pagamento de portagens em todo o país, sendo que, após a destruição e vandalização de algumas cabines de cobrança, várias foram fechadas, incluindo as da TRAC.
Entretanto, num documento publicado em 21 de janeiro, com 30 medidas que exige para os próximos 100 dias, Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados oficiais das eleições gerais de 09 de outubro, voltou a exigir a não cobrança de portagens em todo o país.
"Na N4, as portagens, pelo tempo de vida que já têm, cumpriram com tempo de rentabilidade face ao investimento efetuado", refere-se no documento, exigindo a extensão do não pagamento de portagens neste período, alegando também que, em várias vias com portagens no país, "não houve consulta pública" sobre essa cobrança e "não se respeitou o princípio da via alternativa".
PVJ // ANP
Lusa/Fim
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