Segundo o diretor nacional dos Direitos Humanos, Yannik Bernardo, que falava à margem de um seminário sobre o combate a este fenómeno, as províncias do Zaire e Cabinda, ambas fronteiriças com a República Democrática do Congo, também são preocupantes.

"A província do Zaire neste caso preocupa-nos por causa dessa relação de fronteira e no âmbito do 'raking' que temos, primeiro está o Cunene, depois está a região do leste, que compreende as duas Lundas e Cabinda e Zaire, aqui a norte, que realmente nos preocupam, para efeitos de entrada de vítimas de tráficos de seres humanos", disse o responsável, dem declarações emitidas pela rádio pública angolana.

Yannik Bernardo realçou que as ações realizadas pelos criminosos e traficantes são preocupam as autoridades, principalmente quando têm a ver com crianças, defendendo a necessidade de se criar condições institucionais, "instituições preparadas, vocacionadas para o combate ao tráfico de seres humanos".

Um relatório do Departamento de Estado norte-americano sobre tráfico de seres humanos divulgado em julho do não passado, alertava quem em Angola, jovens e crianças, de ambos os sexos, são explorados por traficantes no seu próprio país e fora dele.

"Os traficantes exploram angolanos, incluindo jovens de 12 anos em trabalhos forçados no fabrico de tijolos, no serviço doméstico, construção, agricultura, pescas e exploração artesanal de diamantes e outros setores de mineração", refere o relatório, acrescentando que meninas angolanas com 13 anos são vítimas de tráfico sexual e trabalho doméstico em casas particulares.

"Adultos angolanos usam crianças menores de 12 anos em atividades criminosas forçadas, porque as crianças não podem ser processadas judicialmente", refere ainda o documento, sublinhando que com a pandemia de Covid-19 os "manipuladores" angariaram mais crianças pobres de Luanda para trabalharem na rua a mendigar, engraxar sapatos, a lavar carros e a ajudar a estacionar.

Também no ano passado, a polícia angolana desmantelou uma rede de tráfico de seres humanos, no município de Cazenga, província de Luanda, chefiada por cidadão nigeriano que recebia constantemente menores provenientes da Nigéria, criava até à idade adulta, sendo na sequência devolvidas ao país de origem.

"Mas durante este período que estas menores estavam no local, eram submetidas a serviços de escravidão, prostituição, bem como eram forçadas a procriar, no interior da residência. Havia todo um esquema e provavelmente envolvia altas somas monetárias, [sendo] as mesmas submetidas a este tipo de sevícias", explicou o porta-voz da Polícia de Luanda, Nestor Goubel.

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