A União Nacional, que até 2018 se chamou Frente Nacional, celebrou este mês meio século e reúne-se no próximo dia 05 de novembro em congresso para escolher um novo presidente, com Marine Le Pen a continuar a mandar no partido à distância e a preparar as eleições de 2027.
"Não devemos pensar que só porque este partido fez um percurso improvável em 50 anos que a vitória de Marine Le Pen é certa em 2027. Ela tem de ganhar um certo número de pontos, já que de 42 por cento nas últimas eleições aos 50% necessários ainda vai uma grande diferença", afirmou Jean-Yves Camus, politólogo e co-diretor do Observatórios dos Radicalismos Políticos na Fundação Jean-Jaurès em entrevista à Agência Lusa.
Há 50 anos que Jean-Marie Le Pen fundou o partido Frente Nacional, que mudou de nome em 2018 para União Nacional, obtendo em 2022 as suas maiores vitórias com Marine Le Pen na liderança: um resultado de 42% na segunda volta das eleições presidenciais em maio e, logo a seguir, um grupo de 89 deputados na Assembleia Nacional.
No entanto, para o investigador Jean-Yves Camus, que acompanha o partido há 40 anos, a vitória de Marine Le Pen em 2027 só pode acontecer caso a líder da extrema-direita francesa mostrar que tem uma equipa à volta dela com capacidade para gerir um Governo.
"Ela ainda tem de mostrar que este partido é capaz de governar e isso vai depender da qualidade do trabalho dos deputados da Frente Nacional nos próximos anos. No fim deste mandato, os franceses têm de ver que ela não está sozinha e que ela tem uma equipa, com alguém que possa ser ministro das Finanças ou dos Negócios Estrangeiros. E ela ainda está muito longe disso", indicou o investigador.
Uma sondagem divulgada esta semana pelo barómetro Odoxa, que estuda a popularidade dos políticos franceses, mostrou que Marine Le Pen é a segunda figura política mais popular em França, ultrapassada apenas por Edouard Philippe, ex-primeiro-ministro de Emmanuel Macron e atual autarca de cidade de Havre.
Jean-Yves Camus lembra que em 2027 Emmanuel Macron não será uma opção para os eleitores franceses porque terá atingido o máximo de mandatos consecutivos à frente do Eliseu, cabendo assim à maioria encontrar um ou uma nova candidata que faça frente a Marine Le Pen.
Com Macron fora da corrida, "terá de ser outra pessoa e para ter alguém tão carismático, conhecido e implementado como Marine Le Pen, a maioria vai precisar de alguém que seja capaz de unir os franceses, alguém extremamente credível", explicou.
Daqui a uma semana, Jordan Bardella, que chegou a assumir funções de presidente durante a campanha eleitoral, poderá assumir integralmente a liderança do partido. No entanto, não será este jovem eudeputado de 27 anos a dirigir verdadeiramente o partido.
"O congresso de 05 de novembro vai eleger um novo presidente e este presidente não será Marine Le Pen, ela já deixou a presidência temporária a Jordan Bardella durante a eleição presidencial. Mas que ninguém se engane, quem manda verdadeiramente na União Nacional é e continuará a ser Marine Le Pen", declarou Jean-Yves Camus.
Nos 50 anos deste partido, o investigador considera que Marine Le Pen soube aproveitar-se dos problemas do país, como fez recentemente, quando veio ligar o assassinato macabro de uma menina de 12 anos por uma argelina que já tinha ordem de expulsão do país à imigração ilegal, ou quando alinhou na votação de uma moção de censura ao Governo com a esquerda, para continuar a projetar o seu partido.
"Toda a gente pensou, tanto à esquerda como à direita, que a Frente Nacional era um fenómeno transitório e temporário e que, no fundo, um dia íamos livrar-nos deles, mas de facto, a história progride e Marine Le Pen aproveita hoje uma série de problemas mal resolvidos da sociedade francesa e com os partido de direita, em França e na Europa, estagnados num sistema antigo", comentou.
Sem pompa nem circunstância, o aniversário do partido contou com um pequeno grupo fechado, deixando de fora Jean-Marie Le Pen, atualmente com 94 anos. Uma exclusão que Jean-Yves Camus diz compreensível pela idade, mas sobretudo porque Marine Le Pen quer pensar no futuro.
"Ele tem 94 anos, não seria normal que ele continuasse à frente do partido. Não falando das suas contradições e das declarações abomináveis que fez, sem Jean-Marie Le Pen, o partido não estaria onde está. Claro que há uma certa ingratidão de o afastar desta forma, mas Marine Le Pen sabe que se o partido tivesse continuado como no tempo do seu pai e se ela fizesse como o seu pai, as coisas não funcionariam com funcionaram", concluiu.
CYF // APN
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