No ofício, enviado na quinta-feira ao presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto, Tiago Braga, e a que a Lusa teve hoje acesso, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, manifesta a sua preocupação com "o impacto profundamente negativo gerado pela empreitada de construção da nova linha do metro".
Lembrando que devido à "duração e dimensão" da obra foi criado um grupo de trabalho - constituído pelos serviços da Câmara do Porto, da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) Serviços, da Metro do Porto, do empreiteiro e da entidade fiscalizadora -- o autarca independente afirma que o município ficou "desprovido de qualquer informação sobre o andamento da empreitada".
"Tais reuniões, que se revestem de extrema importância para auxiliar a boa gestão e funcionamento da cidade, foram, entretanto, canceladas pela Metro do Porto", observa Rui Moreira, que solicitou aos serviços municipais a elaboração de um documento sobre as frentes de obra da linha Rosa.
"Neste se constata que praticamente todas as frentes de obra apresentam excessivos atrasos", assegura, acrescentando que na frente de obra da Casa da Música (nos cais da Linha Rosa e da Linha Rubi) "existe um atraso de 215 dias" e na Galiza, onde vai ser construída uma nova estação, um atraso de "275 dias".
Na construção da nova estação do Hospital Santo António o "atraso é de 92 dias" e da nova estação da Praça da Liberdade (ligação Largo dos Loios e estação de S. Bento) verifica-se um atraso de "120 dias", elenca Rui Moreira.
"Nada do que foi planeado está a decorrer normalmente, muito pelo contrário", destaca, lembrando que a situação tem "implicações graves no escoamento do tráfego", bem como na circulação dos transportes públicos da STCP.
"É por de mais evidente os atrasos sucessivos atrasos registados pela STCP nas linhas 200, 201, 207, 305, 500 e 703, que chegam a atingir os 40 minutos", afirma, dando conta de que na zona do centro histórico (PRT1) a procura se encontra a 80% da verificada em 2019.
Defendendo que a cidade precisa de investimentos como os que a Metro do Porto está a realizar, Rui Moreira considera, no entanto, que o Porto "não pode definhar em função de uma excessiva disrupção das suas atividades".
No ofício enviado a Tiago Braga, o presidente da câmara lembra ainda que estão previstas novas obras na cidade, nomeadamente a Linha Rubi e a linha de metrobus [BRT] da Boavista, e que estas "não poderão ser concomitantes com as obras ainda em curso e cujo real cronograma não pode ser aferido".
"Estamos perante uma verdadeira disrupção do normal funcionamento da cidade, com um impacto altamente negativo na qualidade de vida de todos os que vivem, trabalham ou visitam a cidade", afirma Rui Moreira, questionando ainda a operadora sobre que medidas vai adotar para mitigar "os efeitos nefastos" provocados pela empreitada.
Contactada pela Lusa, a Metro do Porto não quis comentar o assunto.
A empreitada de construção da Linha Rosa, que se traduz num novo trajeto no Porto entre a zona de S. Bento/Praça da Liberdade e a Casa da Música, arrancou no dia 29 de março.
Com quatro novas estações subterrâneas e um percurso em túnel de quase três quilómetros, esta linha tem o cunho de dois prémios Pritzker [considerados o Nobel da Arquitetura], uma vez que Eduardo Souto Moura é o responsável pelos projetos das novas estações, sendo que a de São Bento é assinada em parceria com Álvaro Siza Vieira.
Em março, o presidente da empresa, Tiago Braga, anunciou que as obras das linhas Amarela e Rosa da Metro do Porto decorrerão "durante três anos", até 2024.
As obras de prolongamento da Linha Amarela e a construção da Linha Rosa representam no total um acréscimo de seis quilómetros e sete estações à rede de metro do Porto e um investimento total superior a 400 milhões de euros.
SPC (PFT) // MSP
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