"O pior problema que Angola e muitos países africanos enfrentam é justamente o de vermos os espaços de pensar cooptados, a liberdade de pensar condicionada, temos de pensar, podemos pensar, mas parece que só o pensamento dos partidos é que são tidos em conta", afirmou hoje Júlio Candeeiro.
Para o frei católico angolano, persiste ainda em Angola e em muitos países africanos o "problema da partidarização dos espaços de participação e até dos espaços de pensar".
"Portanto, esta conferência quer também desafiar a nós todos, a pormo-nos a pensar a partir da nossa história, no presente e com olhos abertos no futuro", apontou.
Em declarações à margem da cerimónia de abertura da Conferência Internacional "Pensar África", que se iniciou hoje em Luanda e decorre até quarta-feira, referiu que África tem ainda "problemas" de valorizar a vida humana "seja em que espaço geográfico se encontrar".
A liberdade "é liberdade independentemente do espaço geográfico em que a pessoa se encontre e são estes, a nosso ver, os desafios com que a África se debate e de modo muito especial essa questão de pensar África tem que ver com o facto de pensar a África como nossa".
A conferência, promovida pelo Mosaiko em parceria com o Centro de Estudos Africanos (CEA) da Unidade Católica de Angola, decorre na capital angolana em formato híbrido e congrega conferencistas angolanos e de distintos países africanos lusófonos e francófonos.
O encontro, que celebra também os 25 anos do Mosaiko, organização não-governamental de promoção e defesa dos direitos humanos, afeta à Igreja Católica angolana, busca também caminhos sobre o problema da fome, guerra e "violação sistemática" dos direitos humanos.
"A África de hoje continua marcada por este dilema de, por um lado, termos inscrito nos nossos textos constitucionais, nos nossos programas a questão dos direitos humanos universais, mas por outro lado temos também alguma dificuldade de os implementar", salientou Júlio Candeeiro.
"Temos cenas, episódios e factos de violações constantes e sistemáticas de direitos humanos em grande parte dos países africanos", notou.
O "problema" a nível de África, acrescentou o responsável do Mosaiko, coloca-se naquilo que se chama de "acolhimento" dos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
"Na medida em que, infelizmente, muitos Estados violadores dos direitos humanos usam o argumento de que os direitos humanos não são africanos e sob capa da cultura, da identidade genuína africana não protegemos a vida, o bem comum, violamos os direitos de outrem", sustentou.
África e olhar interior e identidades africanas são os painéis agendados para o primeiro dia desta Conferência Internacional "Pensar África".
DYAS // VM
Lusa/Fim
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