
A ópera volta a cena 31 anos depois da sua estreia, desta feita sob a direção musical de José Eduardo Gomes, com um elenco português, excetuando o tenor inglês Julian Hubbard, no papel de Baltasar Mateus, o Sete-Sóis.
Blimunda é a soprano Dora Rodrigues e o restante elenco é composto pelo barítono Luís Rodrigues no papel de Bartolomeu de Gusmão, a meio-soprano Maria Luísa de Freitas no de Sebastiana Maria de Jesus, o tenor Luís Madureira no de Domenico Scarlatti, Marcello Urgeghe no de D. João V, Sara Carinhas como rainha Maria Ana, e Simão Africano como frei António de S. José.
A apresentação da ópera faz parte das comemorações do centenário do nascimento de José Saramago (1922-2010), único autor de língua portuguesa distinguido com um Prémio Nobel de Literatura, em 1998.
Em declarações à agência Lusa, Nuno Carinhas disse que um dos desafios que teve foi "pegar numa obra escrita com três espaços -- imaginário, real, etc. -- e fazer disto uma narração única".
"No fundo é tornar fluído uma coisa fragmentada, do ponto de vista da narrativa, sempre a mudar de espaço, sempre a mudar de tempos, inclusivamente. Fazer com que entremos na história como um sonho e vamos por esse sonho por aí fora sem que haja grandes paragens ou cortes evidentes de coisas", acrescentou.
Sendo um desafio, "é uma qualidade do libreto que, quando se lê a primeira vez, se fica muito inquieto, como dar sequência a tudo, e dar um espaço unificador de toda a narração", referiu Nuno Carinhas.
A abrir a cena uma maqueta do Convento de Mafra - obra prometida por D. João V, caso tivesse um filho que fosse o herdeiro da coroa - ocupa o centro do palco, onde são também projetadas imagens. Outro elemento multimédia é a "banda sonora que percorre a sala".
"As projeções existem porque no libreto [de autoria de Azio Corghi] existe a parte dos sonhos e, portanto, eu pensei que, para entrarmos nessa outra realidade, tínhamos de arranjar um outro meio, uma outra linguagem e pareceu-me muito interessante, e soube que o JAS ['alter ego' do artista João Alexandrino] fazia desenhos em areia [que são projetados] e pareceu uma belíssima metáfora daquilo que são os sonhos, que fazem-se, desfazem-se e refazem-se", explicou Carinhas.
Outro elemento que surge em palco é uma enorme roda em madeira, "sintetizando todo o movimento para que as coisas aconteçam", bem como os trabalhos de edificação do edifício de Mafra.
Carinhas estranhou que a ópera estivesse 30 anos sem ser feita, mas frisou: "As comemorações servem muitas vezes para isto, recuperar coisas que estão esquecidas e só nestes momentos é que há meios para voltar a fazer coisas que têm de ser feitas".
"Acho que esta peça pode viver em qualquer parte e em qualquer circunstância, mesmo que não haja comemorações", afirmou o antigo diretor artístico do Teatro Nacional São João.
O encenador reconheceu que esta é "uma ópera difícil, envolve muita gente, uma ópera que não transporta para as melodias a que [se está] mais habituado quando [se pensa] numa ópera".
Esta nova produção de "Blimunda" conta com "cerca de 80 pessoas", disse Carinhas.
À Lusa, o encenador realçou que lhe dá "muito prazer" que a ópera "seja feita essencialmente por portugueses" e recordou o antigo administrador e diretor artístico do Teatro Nacional de S. Carlos João de Freitas Branco (1922-1989), que afirmou que um dia devia ser feita uma versão desta ópera em português.
"Blimunda" vai ter apresentações no TNSC na sexta-feira, nos dias 14 e 16 de novembro, sempre às 20:00.
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