"Decisões concretas sobre a capacidade de resposta das Forças Armadas em relação à sua ação no combate ao terrorismo em Cabo Delgado no período após a retirada das forças amigas da SAMIM e do Ruanda", pediu Nyusi, ao intervir, em Maputo, na abertura do XXIV Conselho Coordenador do Ministério da Defesa Nacional.

"Para o efeito, a vossa reflexão deve igualmente avaliar a forma de melhor capitalizar o manancial de reservistas, empenhando-os direta ou indiretamente em várias missões em prol da defesa da soberania e integridade territorial do nosso país. E a realidade atual justifica", acrescentou, dando como exemplo os antigos combatentes da luta de libertação, que ainda "são úteis, mesmo depois de 40 anos".

Na luta contra o terrorismo em Cabo Delgado, Nyusi destacou a importância "convocar o cidadão" e a sociedade em geral para "participarem ativamente no esforço de defesa nacional".

"Os temas de reflexão escolhidos por este Conselho Coordenador, entre os quais figuram o envolvimento da sociedade na luta contra o extremismo violento, transformando vulnerabilidades em oportunidades, encontram enquadramento e relevância num contexto em que se intensifica o retorno das populações às zonas de origem, numa altura em que se observa a retoma das atividades económicas e o normal funcionamento das instituições nos distritos de Cabo Delgado", disse ainda o chefe de Estado.

A cimeira da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) aprovou em agosto passado a prorrogação da missão em Cabo Delgado, Moçambique, por 12 meses, até julho do próximo ano. Segundo o comunicado final da 43.ª cimeira dos chefes de Estado e de Governo da SADC, o encontro também felicitou os Estados-membros, a liderança e o pessoal da Missão Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SAMIM, na sigla em inglês) pela sua dedicação e contribuição no apoio à missão visando o alcance da paz e segurança na província de Cabo Delgado.

Uma missão de avaliação propôs em julho passado a retirada completa dos militares da SAMIM em Cabo Delgado até julho de 2024, assinalando que a situação na província "está agora calma", apesar de os riscos prevalecerem.

A avaliação, consultada pela Lusa, foi proposta à Cimeira Extraordinária da troika do Órgão da SADC sobre Cooperação nas Áreas de Política, Defesa e Segurança.

Nas recomendações, a missão de avaliação aconselha o início gradual da saída da SAMIM a partir de 15 de dezembro deste ano e a conclusão da retirada em 15 de julho de 2024, isto é, um dia antes do fim do prazo da prorrogação decidida na terça-feira pela troika da SADC.

A análise da situação feita aponta como riscos decorrentes da permanência da SAMIM por mais um ano o "crescente 'stress' financeiro dos Estados-membros e falta de orçamento para ações de mobilização das comunidades para o apoio às tropas estrangeiras".

Além da SAMIM e das forças governamentais moçambicanas, combatem a insurgência em Cabo Delgado as tropas do Ruanda, estando estas a operar no perímetro da área de implantação dos projetos de gás natural da bacia do Rovuma.

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da SADC, libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul de região e na vizinha província de Nampula.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

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