
"Estou satisfeito por ele ter recebido a pena máxima, e espero que a use para refletir sobre as suas acções", disse o escritor britânico de origem indiana, de 77 anos à BBC, estação pública britânica.
Hadi Matar, de 27 anos, foi condenado a 25 anos de prisão, no passado dia 16, pela tentativa de homicídio do escritor, em 12 de agosto de 2022, no início de uma palestra sobre a proteção da liberdade dos escritores, no condado de Chautauqua, no Estado de Nova Iorque.
Na sequência deste ataque, o escritor ficou cego do olho direito e paralisado de uma mão, sofrendo ainda sequelas dos golpes desferidos contra si, no pescoço e no tronco.
No ano passado Rushdie editou o livro de memórias "Faca - Meditações na sequência de uma tentativa de homicídio", no qual recorda os acontecimentos daquele ataque e o longo processo de recuperação.
Hoje, o escritor explicou à BBC que no livro imaginou uma conversa com Hadi Matar, por não o conhecer. "Se eu o conhecesse, [...] não conseguiria muito dele. Duvido que ele me abrisse o seu coração. Por isso pensei em abri-lo eu próprio: provavelmente fá-lo-ia melhor do que numa conversa a sério".
No termo do julgamento, Hadi Matar acusou Rushdie de querer "atacar o Islão".
O autor do crime nunca fez referência à 'fatwa' (sentença de morte) emitida em 1989 pelo fundador da República Islâmica do Irão, ayatollah Khomeini, contra o escritor, pela publicação do seu romance "Os Versículos Satânicos", editado em Portugal pela Dom Quixote.
Hadi Matar será ainda julgado num tribunal federal dos Estados Unidos, por suspeitas de crimes de terrorismo, por alegadamente ter fornecido ajuda material à milícia xiita libanesa Hezbollah.
Nascido em Bombaim, em 1947, Salman Rushdie é autor de romances, contos para a juventude e ensaios, e recebeu em 1981 o Prémio Booker pelo livro "Os Filhos da Meia-Noite".
Após a 'fatwa', Rushdie passou anos escondido e com proteção policial, mas regressou gradualmente à vida pública depois de, em 1998, o governo iraniano se ter distanciado da sentença, afirmando que não apoiaria alguma tentativa de assassínio do escritor, embora a sentença nunca tenha sido oficialmente revogada.
O romance mais recente de Salman Rushdie, "Cidade da Vitória", concluído um mês antes do atentado, foi editado em 2023 e também está editado em Portugal.
No ano passado, quando publicou "Faca - Meditações na sequência de uma tentativa de homicídio", justificou a obra: "Compreendi que tinha de escrever este livro [...] antes de poder passar a qualquer outra coisa. Escrever seria a minha maneira de possuir o que acontecera, assumir o seu controlo, torná-lo meu, recusar-me a ser uma mera vítima. Responderia à violência com a arte."
MAG (JRS/SS) // RBF
Lusa/Fim
Comentários