Em 25 anos acompanhámos mais de 10 mil famílias em quatro regiões, construímos três Casas (Lisboa, Porto e Coimbra), entregámos 22 Bolsas de Estudo, brincámos em 50 Campos de Férias; contamos, hoje, com cerca de 650 Voluntários em todo o país e, em cada necessidade sentida, damos voz na defesa dos direitos das crianças com cancro e suas famílias. Agora vamos aumentar a capacidade da Casa Acreditar de Lisboa onde vivem, gratuitamente, famílias de crianças em tratamento no IPO de Lisboa. De 12 passaremos para 32 quartos.
Do ponto de vista factual há mais para dizer? Obviamente que sim: o apoio social, jurídico ou financeiro, as acções lúdicas ou de formação para Pais, crianças / jovens e sobreviventes, o apoio à escolaridade, a solução para tantos problemas que afligem estas famílias. Basta querermos para acrescentarmos outros quês e outros quantos.
Porém, do outro lado de uma medalha que cada um de nos mantém junto ao coração, não há factos comprováveis ou mensuráveis: como se quantifica a dedicação de centenas e centenas de voluntários? Qual a unidade em que medimos a competência da equipa de profissionais? Que ferramenta usamos para calcular, em toda a sua dimensão, o impacto da Acreditar na vida destas 10 mil famílias que foram afectadas por situações de cancro infantil?
A Acreditar faz 25 anos. Somos aquilo que fazemos e que mostramos, mas também aquilo que fazemos e não mostramos, porque, como disse uma raposa inteligente, o essencial é invisível aos olhos. As nossas Casas, mais do que a nossa obra mais visível, são uma espécie de escudo invisível para quem lá vive durante um período particularmente difícil da sua vida. Um mecenas que apoia um quarto não apoia apenas paredes, chão, tecto e equipamentos – apoia um lugar tão seguro quanto possível para uma família em tempos de angústia, um espaço onde se fala a linguagem da esperança; apoia uma janela que abre directamente para um futuro que se quer feliz.
A Acreditar faz 25 anos. As paredes metafóricas que mostram o que somos estão forradas com 10 mil fotografias de famílias para as quais vivemos, por causa das quais vivemos. São 10 mil fotografias de pessoas que, ao entrarem com um filho num hospital – um filho bebé, criança ou jovem adulto – ouviram a frase que é um misto de estupefacção e horror: o seu filho tem cancro. 10 mil histórias diferentes, com fins diferentes mas com pontos comuns: a esperança em dias melhores, a luta incessante, os momentos alternados de desalento e ânimo, a Acreditar como lugar geométrico de um mundo muito disperso mas com códigos comuns que unem – e que tornam una – famílias que vêm dos Açores ou do Algarve, das Beiras ou de Angola, da Madeira ou de Cabo Verde, do Minho ou da Guiné.
Há um desejo que se repete dentro de cada um de nós, voluntários, pais, profissionais, mecenas: o desejo de não celebrarmos mais 25 anos; o desejo de fecharmos as portas porque já ninguém ouve que o seu filho foi arrancado à escola ou à creche porque tem cancro. O desejo de não termos de lutar pelos direitos dos pais, dos cuidadores, dos sobreviventes ou dos próprios doentes porque a sociedade se tornou mais justa, mais atenta, mais solidária, mais repartida. O desejo, por fim, mas não menos importante, de ouvir falar do cancro infantil como uma coisa antiga, uma doença de outros tempos, uma angústia do passado.
Até lá, até que chegue esse dia, estaremos presentes nos corredores de quem decide, nas enfermarias dos hospitais, nos gabinetes dos mecenas, nos laboratórios onde se investiga. Estaremos de mão dada com as crianças que saem da escola para o hospital, daremos um ombro aos pais que ouvem, perplexos, que o seu filho pequeno tem cancro.
A Acreditar faz 25 anos. Vestimo-nos de prata e de orgulho que partilhamos com as dez mil famílias e com todos os outros que permitem que existamos.
Sobre a Acreditar:
A Acreditar, Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro faz 25 anos. Presente em quatro núcleos regionais: Lisboa, Coimbra, Porto e Funchal, dá apoio a todos os ciclos da doença e desdobra-se nos planos emocional e social. Com a experiência de quem passou pelo mesmo, enfrenta com profissionalismo os desafios que o cancro infantil impõe a toda a família. Momentos difíceis tornam-se possíveis de viver quando nos unimos.
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