Segurança, nas relações amorosas não significa dependência, mas também não significa independência absoluta. Estes dois conceitos são facilmente confundíveis dentro das relações: uns dizem que fazem tudo juntinhos e não vivem um sem o outro, o que à primeira vista pode parecer amoroso e securizante, mas numa observação mais profunda, frequentemente significa exatamente o oposto, significa dependência e principalmente insegurança, individual e relacional, medo de perda e abandono que se defende com a ansiedade por fusão. Por outro lado, quando os membros de um casal se dizem muito independentes, em que cada um tem a sua vida, vivem em casas separadas e nunca discutem, com um olhar mais atento podemos encontrar também insegurança, medo de proximidade e vulnerabilidade emocional, que se defende na distância, no evitamento.
A segurança no amor alcança-se em Interdependência, numa busca pelo equilíbrio entre conexão e liberdade, entre partilha e aceitação da diferença, entre ser e deixar ser, entre arriscar e compreender, entre ficar e deixar ir, entre dependência e independência, entre entender que podemos ser melhores com os outros, mas sermos inteiros se o outro não estiver e sermos inteiros quando estamos com o outro. Ser simultaneamente livre e escolher viver essa liberdade junto do outro.
Uma relação insegura com pessoas com vínculos inseguros leva a que duas forças opostas frequentemente se juntem: os que precisam estar mais próximos com os que precisam estar mais sós… parece um paradoxo, mas é a combinação mais comum, nas terapias conjugais e nas relações em geral. Quem precisa de proximidade sente uma atração inconsciente por alguém autónomo e independente, mas quando este se distancia sofre com ansiedade e desespero e incorre em esforços intensos para que se aproxime. Por seu turno, quem é mais autónomo sente uma atração pela intensidade emocional do outro mais dependente, mas quando o outro fica perto demais sente-se sufocado, bloqueado, controlado e com medo de abrir demasiado as suas emoções.
Se inicialmente a relação se inicia com atração e possível complementaridade, quanto mais a pessoa com vínculo inseguro ansioso procura proximidade, mais a pessoa com o vínculo inseguro evitante se distancia e, quanto mais este último se distancia, mais o outro procura desesperadamente não ser abandonado, e mais o outro se individualiza e protege emocionalmente e assim sucessivamente, num ciclo destrutivo da relação…
Estes amores inseguros, entre pessoas com vínculos inseguros, não chegaram até estas relações adultas em segurança. Foi também na insegurança que foram amados em criança.
A insegurança (ou a segurança) no amor é um contínuo, um processo que começa no desenvolvimento das primeiras relações primárias com os pais (ou outros cuidadores primários), desde a gestação do bebé na gravidez, passando pelos amigos e primeiros amores na adolescência, até às relações amorosas adultas e às relações com filhos que são novamente gerados. A cada fase, a cada relação há a possibilidade de reforço dessa insegurança, mas também a oportunidade de reparação, de mudança, de crescimento individual e relacional.
Estar em relação tem tanto de essencial como de árduo, e se houver insegurança mais duro ainda, contudo o potencial que há em cada um de nós para não nos definirmos por aquilo que nos tentaram definir, é imenso.
A cada relação temos a possibilidade de transformar a relação connosco mesmos, de nos responsabilizarmos por fazer melhor, por procurarmos confiança e segurança, por olharmos para nós e para o outro com compaixão, por ouvirmos e nos expressarmos emocionalmente, numa interdependência que permite estarmos conectados sem medo de nos afundarmos na proximidade ou ser rejeitados na individualidade.
Viver em insegurança no amor pode ser muito doloroso, mas por vezes os casais vivem numa insegurança cómoda, num conforto desconfortável a que se habituam, numa insegurança que lhes parece segura pois é tudo o que conheceram até ali, e atrever-se ao desconhecido é tantas vezes demasiado difícil.
É preciso alguma coragem, mas construir uma segurança saudável, numa verdadeira relação de amor próprio e mútuo, é possível. Está preparado para tentar?
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