Nas eleições deste junho, a aliança no comando da Europa das últimas décadas enfrenta a possibilidade de desintegração com partidos ultranacionalistas a puxarem a liderança de Ursula van der Leyen para o pacto com essa direita ultra.
A italiana Giorgia Meloni mostra uma estratégia inteligente para entrar no topo do poder europeu. Não recusa as origens do partido que lidera, os Fratelli d’ Italia (rótulo de pós-fascista), mas assume a metamorfose que lhe permite governar em Itália numa aliança complexa: em sintonia com os conservadores da Forza Italia, o partido fundado por Berlusconi, com divergências com a Lega, de Salvini.
Meloni está a tentar exportar para a União Europeia o modelo italiano de compromisso às direitas entre a direita conservadora herdeira da democracia-cristã e a direita mais à direita com raízes ultra. No desenvolvimento desta estratégia, Meloni fomenta a exposição de uma cisão nas direitas ultra, com a ligação a Putin a ser o fator diferenciador: os partidos com simpatia pelo Kremlin, como a AfD alemã ficam fora do grupo nacionalista de Meloni que aspira entrar para o poder na Europa.
Há a questão Le Pen. A já histórica chefe da direita francesa tem proximidade antiga com Putin. Mas ela está poderosa em França e as sondagens sugerem que pode ganhar as presidenciais de 2027. Daí que Meloni trate de incluir o Rassemblement National de Le Pen nesta frente ultra que namora o PPE.
Meloni aspira a que já neste 9 de junho uma direita ultra à direita da direita, com partidos que vão dos húngaros de Orbán aos espanhóis do Vox, de Abascal, passando por Le Pen, Ventura e outros, para além dela, Giorgia Meloni, possa conseguir surgir como segundo maior grupo no Parlamento Europeu e, assim, apresentar-se como alternativa aos social-democratas na aliança como os populares de PPE para o comando político da União Europeia. Meloni sonha com o pacto de liderança europeia que deixe de fora todo o centro-esquerda social-democrata e socialista e tem essa ambição no centro da propaganda da campanha eleitoral
Tem sido notada, nestas últimas semanas, a proximidade entre Ursula van der Leyen e Giorgia Meloni, interpretada como sinal de abertura por parte da presidente da Comissão Europeia, que tem a continuidade praticamente garantida.
Mas as sondagens dão essa aliança toda puxada para a direita numericamente improvável, apesar de não impossível. Os últimos dados sugerem que a chamada “maioria Ursula”, formada por populares, social-democratas/socialistas e liberais, que liderou a União Europeia nos últimos cinco anos, pode eleger 409 deputados. A maioria absoluta é conseguida com 361.
Acresce que os socialistas estão a puxar os Verdes (estimativa de 49 eurodeputados) para a aliança de liderança, o que pode ajudar Ursula a relançar o “green deal”.
Por outro lado, entre os liberais (Renew) há fortes incompatibilidades com a direita ultra. Macron não suporta pensar que a arqui-adversária em França possa ser promovida para o comando da União Europeia. O polaco Tusk, depois de deixar os ultras em minoria no parlamento de Varsóvia, não os quer ver de volta pelo topo europeu.
A maior probabilidade é a de continuidade da maioria central que sempre governou a União Europeia. Mas, pela primeira vez, a direita ultra está crescida e disputa a alternativa.
Esta eleição europeia está marcada por duas linhas vermelhas: a dos socialistas e verdes que repetem “nada com os ultranacionalistas; a desta direita soberanista que reclama “nada com os socialistas”.
Os conservadores do PPE, com dois alemães a comandar (Ursula para o governo da União, Weber a liderar o PPE), vão ter de esperar pela noite de 9 de junho para saberem com quem vão liderar a União Europeia.
A eleição, depois, da presidência da Comissão Europeia e a do Conselho Europeu requer unanimidade dos chefes de Estado ou de governo. Caso a maioria continue a ser a atual ao centro, chefes de governo como Meloni, Orbán ou quem tomar posse nos Países Baixos, podem jogar trunfos nessa escolha Não estarão na aliança de comando mas não ficam excluídos.
A presidência da Comissão para a PPE Ursula van der Leyen é opção que parece garantida.
A presidência do Conselho Europeu pode passar por uma dança entre socialistas, liberais e ultras. A hipótese António Costa , socialista com algumas simpatias à direita, pode crescer. A do húngaro Orbán não é de excluir, mas com pouca probabilidade de conseguir o consenso necessário.
Comentários