A simpatia é frequente e injustamente subvalorizada. Provavelmente, muitas vezes até a tomamos como garantida. Sabemos que determinada pessoa será sempre simpática, terá sempre um gesto de gentileza ou uma palavra bonita a sair-lhe do sorriso. Claro que a sabemos apreciar, mas às vezes esquecemo-nos disso e não lhe damos todo o valor que merece. E eu agora podia acabar este parágrafo com uma frase completamente cliché sobre a importância de valorizar a simpatia e a gentileza, e vocês podiam ir a correr espetá-la na descrição de uma foto no Instagram cujo verdadeiro propósito é só mostrar o vosso rabo ou abdominais. Nada contra, mas do que eu queria mesmo falar era da antipatia e da falta de noção social.

Nesta sexta-feira que passou, cheguei de comboio a Faro para participar numa tertúlia sobre viagens no Festival F. Cheguei cedo e a derreter com o calor, resolvi apanhar um Uber para a praia. A água estava uma maravilha, as imperiais na esplanada sabiam a felicidade e ainda tive tempo para ler variadas coisas, entre as quais um artigo sobre sexo na terceira idade. Quase tive de me virar para baixo na toalha e fazer aquela covinha na areia na zona da púbis para ter onde disfarçar a minha alegria.

Hora de arrancar visto que, por mais estranho que pareça, ia aparecer uma data de pessoas para me ouvir e aos outros convidados a falar de viagens. Ali à beira da praia passei os pés nos chuveirinhos para tirar a areia e chamei um Uber de volta. Eram 16€ de volta para o centro. Chegou. Entro no Uber e digo “Boa tarde!”. A resposta foi “ESTÁ CHEIO DE AREIA! ESTÁ A ENCHER-ME O BANCO DE AREIA!”. Olhei para o banco e reparei que tinha, de facto, deixado cair cinco ou seis grãos de areia no banco, quase uma duna de 27 metros de diâmetro, portanto. E então olhei para o simpático condutor que me tinha gritado, sem sequer me ter gritado um “BOA TARDE!” primeiro, e disse “Deixe estar, obrigado”. E saí do Uber. Tentei chamar outro, quem recebeu o pedido foi o mesmo condutor. Cancelei. E depois tive uma ideia.

Dirigi-me à pequena fila de trânsito que se tinha formado para passar a ponte de saída da ilha, espreitei para um dos carros e falei com o senhor: “Desculpe, boa tarde, pode dar-me boleia até Faro, se faz favor?”. Não gritou com os dois grãos de areia que eu possivelmente ainda teria no corpo, e respondeu “Claro que sim, entre”. Fomos a conversar o caminho todo, e no fim agradeci-lhe imenso pela simpatia.

A antipatia não valeu um serviço de 16€ ao condutor da Uber. Mas a simpatia saiu-me barata.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

Festival F:  Eu sei que agora só para o ano, mas fica já a recomendação de um excelente festival.