A banca em Portugal estava, ainda está, numa espécie de limbo, à espera de um movimento que pudesse ser um "game changer", depois de um plano de intervenção externa que deixou o sistema financeiro debaixo do tapete. Era para ser a oferta do Caixabank sobre o BPI, mas continua parada, embrulhada em formalidades e legalidades. Era para ser o Novo Banco, mas não há maneira do Banco de Portugal e Fundo de Resolução encontrarem um comprador. E nunca esteve para ser a CGD, especialmente com esta gestão política do Governo que deixou o banco público parado desde pelo menos janeiro deste ano. Do BCP, esperava-se qualquer coisa, até porque a reestruturação orgânica não chegava e era, é, preciso capital novo.

Depois dos testes de stress, em que o BCP apresentou um rácio, sob stress, de 7%, acima dos 5,5% exigidos, chegou o capital, ou pelo menos a intenção firme de investimento da Fosun, um grupo chinês que já tem em Portugal a Fidelidade e o grupo de saúde Luz. Já tinha concorrido ao Novo Banco há um ano, quer agora ter até 30% do BCP, banco que é hoje dominado pelos angolanos da Sonangol. A Fosun está disponível para investir cerca de 500 milhões de euros, mas a segunda tranche, de 250 milhões, implica um aumento de capital para todos os acionistas do banco, que Nuno Amado muito agradeceria, apesar das declarações públicas de que o BCP não precisa disso. Precisa, pois.

Há, ainda, formalidades a ultrapassar, a primeira das quais o impacto da venda do Novo Banco no capital dos bancos que são os "donos" do Fundo de Resolução. Depois, a aprovação dos reguladores, leia-se do BCE, a mais capital chinês na Europa e no sistema financeiro. Em ambos os casos, as respostas serão mais determinadas pela necessidade de capital do que pela nacionalidade.

O BCP passará a ser chinês, Angola perderá peso, e isso pode ser um "game changer", desde logo para o BCP, que passa a estar mais capitalizado, num setor ainda à procura de melhores dias e mais negócios rentáveis. Sobretudo depois de ter aumentado as provisões no primeiro semestre para digerir, de uma vez, parte significativa das imparidades que continuam a pesar nas contas. O que quer, agora, o BCP neste novo quadro acionista relativamente à operação de venda do Novo Banco? Ninguém sabe, pelo menos ainda.

Além disso, o BPI, o outro candidato bancário ao Novo Banco, está paralisado por uma oferta e por uma guerra de acionistas que torna praticamente impossível uma oferta firme no prazo necessário quando, em setembro, o governador do Banco de Portugal exigir novos compromissos.

O setor começa a ficar arrumado, sem bancos de capital privado português, como se antecipava, mas com bancos privados a falarem línguas diferentes, em concorrência, desejavelmente para benefício dos que têm de pedir financiamento. À língua portuguesa da CGD, já temos o castelhano e catalão, soma-se agora o mandarim, e veremos, depois, que nacionalidade vai ter o Novo Banco.

Escolhas

E por falar em bancos, o Novo… Banco tem um novo presidente. A partir de hoje, é António Ramalho, um homem dos bancos que, de forma intermitente, passou por outros setores, o último dos quais a Infraestruturas de Portugal. Se não é inédito, é quase: Ramalho substitui Eduardo Stock da Cunha a meio de uma operação de venda do Novo Banco que ainda ninguém arrisca dizer como vai acabar. Em setembro, já depois das férias, saber-se-á, mas com a informação disponível hoje, arrisco um desfecho: a venda de uma participação minoritária a um investidor ou mais e entrada no mercado de capitais, à espera de melhores dias, do próprio mercado e das contas do Novo Banco, que no primeiro semestre fechou com prejuízos de 362,6 milhões de euros.

Agora que o país vai a banhos, podemos sossegar, nem que seja por umas semanas, poucas, porque o segundo semestre vai ser difícil. Basta ver o detalhe da execução orçamental e o que indicam os principais indicadores económicos para o resto do ano. Portugal escapou às sanções, sim, mérito de António Costa, que continua a demonstrar habilidade política. Mas já tem outras sanções a caminho, e agora não pode invocar a Comissão Europeia como fonte de todos os males. O BE e o PCP já perceberam isso. Ao contrário de Pedro Passos Coelho, que continua parado em outubro de 2015, à espera de chegar ao poder na sequência de uma crise. Assunção Cristas agradece. E que tal, Passos Coelho, apresentar um plano, ou umas quantas ideias, pelo menos, que reformem o país, coisa que a geringonça, pela sua natureza, será sempre incapaz de o fazer? Os banhos, esses, pode acompanhar aqui, em www.sapo24.pt.

Eu, da minha parte, entro hoje numa espécie de férias, a preparar o lançamento do ECO, um novo jornal económico digital, "mobile first", que chegará ao mercado no último trimestre. Pode acompanhar em www.eco.pt as últimas novidades, a equipa e ao que vimos.

Boas férias para os que podem, bom trabalho para todos os outros.