A francesa é Marine le Pen. O Rassemblement National de que ela é figura principal tem a previsão de 33% do voto francês, o que lhe promete o destaque de maior partido político no Parlamento Europeu, com 30 dos 720 eurodeputados. 

A italiana é Giorgia Meloni. Chefia o governo de Roma há ano e meio, tem expectativa de, com as listas Fratelli d’ Italia, que lidera,  eleger 20 eurodeputados – mais do que a CDU alemã que foi de Merkel ou que o PSOE de Pedro Sánchez que governa Espanha – e coloca-se como a federadora da ala na direita das direitas que consegue deixar de estar diabolizada.  O agregado de sondagens EuropeElects atribui à ultradireita à volta de 22% do voto europeu nestas eleições. Esta percentagem sugere que os partidos ultra no grupo Reformistas e Conservadores Europeus (ECR) poderão passar de 138 para 158 dos atuais eurodeputados. Há, no entanto, a questão da AfD alemã, expulsa do grupo Meloni por declarações de tolerância do líder Maximilian Krah com o passado nazi. A AfD chegou a ter nas sondagens o crédito de 14% do voto alemão, mas estará a perder peso. 

A alemã é Ursula van der Leyen. Presidiu à Comissão Europeia nos últimos cinco anos, apoiada pela coligação moderada ao centro que tem liderado a Europa do pós-guerra e que é formada pelo Partido Popular Europeu (PPE), herdeiro das antigas famílias políticas conservadoras e democratas cristãs, pelos Socialistas e Democratas (S&D), que junta partidos de centro-esquerda, socialistas e social democratas, e pelos liberais Renew. O europeísmo de Ursula, com ativismo climático propulsor da transição energética alargou-lhe apoios em grande parte do mandato. Ursula sabe que o PPE vai ser a família política mais forte nestas eleições mas vai continuar a precisar de alianças para governar com maioria. Há alguns meses, quando surgiu a especulação de subida tão forte da ultradireita que poderiam superar os socialistas S&D, Ursula, pragmática, cultivou a aproximação com Meloni. A italiana bate-se por uma liderança europeia que reproduza o modelo italiano de governação, todo puxado para a direita e deixando de fora toda a esquerda logo a partir do centro S&D.

Mas, em cima desta decisão através do voto, percebeu-se que há um dique, com peso maioritário feminino, que está a estancar o crescimento da direita ultra, enquanto o grupo S&D se aguenta com perdas atenuadas. É assim que já há sinais de que Ursula recalibra a energia para as aproximações e volta a piscar o olho à forças europeístas moderadas, sobretudo os socialistas S&D e mesmo os Verdes.

Estas eleições tornaram-se transcendentes como nenhuma outra em 70 anos de avanços e recuos na evolução da união na Europa. O quarteto europeísta moderado formado pelos herdeiros PPE da democracia cristã, pelos sucessores S&D da social-democracia alemã, escandinava e socialismo do sul europeu, mais liberais e verdes esteve em risco de implodir e assim levar ao retrocesso do europeísmo.

O quadro parece recentrado e a probabilidade é a de que o mando continue com as famílias sempre dominantes, embora com abertura ao grupo de Meloni na direita da direita, reforçado mas certamente não tanto quanto julgou possível.

A francesa Marine Le Pen vai analisar o resultado destas eleições em modo que lhe facilite a muito possível eleição na presidencial que em 2027 vai decidir a sucessão de Macron em França. Ela está favorita.

Meloni vai tratar de continuar a crescer e a aproximar-se de Ursula van der Leyen que, salvo grande surpresa, será reconduzida na presidência da Comissão Europeia. Fica para ser muito negociado quem vai presidir ao Conselho Europeu. António Costa está na aliança que afinal deve continuar a comandar a União Europeia.