Ao Presidente da República; ao Presidente da Assembleia da República; ao Primeiro Ministro; aos Presidentes dos Tribunais Superiores; ao líder da oposição; aos Presidentes dos Governos Regionais; aos Conselheiros de Estado; aos Chanceleres das Ordens Honoríficas Portuguesas; ao Presidente da Academia de Ciências de Lisboa; ao Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa; aos Presidentes de Assembleia de Freguesia; ao Chefe da Divisão de Trânsito do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP; ao Editor de Internacional do jornal “O Diabo”; ao Director de Logística da Casa dos Frangos de Moscavide; ao Técnico de Ar Condicionado do Requinte Motel; ao Moderador Principal do fórum Chupa-mos e ao Gasolineiro Chefe Em Regime de Substituição da Repsol da Segunda Circular Sentido Benfica - Aeroporto,

Somos um grupo de cidadãos e cidadãs, pais, filhos, enteados, professores, académicos, analfabetos, cientistas, teóricos da conspiração, médicos, endireitas, praticantes de padel, distribuidores de flyers com 220 seguidores no Twitter, proprietários de iPhone e muitos outros membros da elite intelectual e cultural que se dirigem a V. Exas. para exigir (pedir com jeitinho) o seguinte: 

Fechem as cartas abertas!

Apesar da queda (penálti para o Porto) nos números das novas infecções por SARS-CoV-2 poder transmitir o contrário, os indicadores não são tranquilizadores o suficiente para que possamos ter a veleidade de abrir cartas nesta altura. Compreendemos a ânsia de abrir envelopes ao público para apelar ao sentimento geral das massas, mas o nosso entendimento, como especialistas em epistolografia, é de que as cartas devem permanecer fechadas.

Posicionamo-nos, portanto, contra a violação da correspondência que foi publicada nesta terça-feira no Público, em que figuras incontornáveis da nossa sociedade pedem “contenção” às televisões nacionais. É impensável o tom agressivo do artigo com que se fala do “tom agressivo” das entrevistas, lamentável o estilo acusatório dos signatários através do qual se denuncia o estilo acusatório dos jornalistas e ultrajante a ideia de se gastar 5000 caracteres de um jornal para criticar a excessiva duração dos telejornais. Nesse sentido, os subscritores desta carta aberta unem-se num só apelo: chega de cartas abertas.

Adicionalmente, pedimos que se proíba a reprodução, em rádios nacionais, da canção “Carta” dos Toranja, a difusão, em canal aberto, do filme “Cartas da Guerra” de Ivo Ferreira e a edição e comercialização, na secção livreira dos supermercados, da obra “Carta ao Pai” de Franz Kafka, para não dar ideias a potenciais instigadores epistolares.

Os signatários:

Abel Areias (talhante); Blimunda Guedes (fã de António Lobo Antunes); Dalila Soares (pessoa); Ediberto Mata (entusiasta da Bimby); Fernando Sá (ex-frequentador do Galeto); Guida Vaz Peres (tia); Henriqueta Félix (ultramaratonista); Isidoro Levy (concorrente do Joker); Jacinto Dores (estóico); Lucinda Costa (influencer); Manuela Cácio (participante em fóruns de opinião); Narciso Martins (era preciso); Orlando (marca de ração low-cost); Paula Rodrigues (advogada); Quintino Freitas (atendeu o telefone); Raimundo Castro (chantagista emocional); Sílvia Dinis (pai); Tiago Oliveira (proprietário de carro a GPL); Úrsula Alemão (anti-europeísta); Vasco Enes (vogal); Xano Filipe (lateral-esquerdo do Elétrico de Ponte de Sor); Zé Bolotas (intelectual).

Recomendações

Esta canção.