É tão ou mais doloroso do que dizer adeus a uma pessoa amiga, a um familiar próximo. Não. É pior, porque um cão representa tão somente amor, companhia, consolo, alegria. Não existem palavras mal trocadas, equívocos com maior ou menor importância, pequenos desgostos emocionais. Um xixi no chão não é um episódio infeliz, digo eu.

O nosso cão morreu na semana passada. Esteve connosco 14 anos. Era um cão com o seu feitio, é certo, mas um super cão. Tinha com cada um de nós uma relação diferenciada. Olhava por mim quando me sentia mais abatida. Ficava aos meus pés se adoecia. Encostava a cabeça ao meu joelho sempre que me mostrava mais nervosa. Abanava a cauda quando cada um de nós chegava e até “falava” connosco. O meu marido perguntava-lhe: e como foi o teu dia?


Ao longo destes anos tivemos inúmeras situações de amor, caricatas, até hilariantes, sempre exemplares da sua inteligência e forma de estar. Era um de nós. Não nos esqueceremos de como o trataram sempre tão maravilhosamente na clínica Bichomix. Até ao fim, sempre com cuidado, com ternura e, no momento de um pôr a dormir, dando espaço à nossa dor. O Hugo, a Sofia, a Débora, todos os profissionais da clínica foram sistematicamente incríveis com o nosso cão. A Marta, na aldeia do Meco, ele já velho e com dores, encheu-se de paciência e encheu-o de mimos, sem nunca se recusar a dar-lhe banho ou tosquiá-lo.


Muitos foram os amigos que se cruzaram com ele e que nos enviaram mensagens. Alguns limitaram-se a estar. As nossas vizinhas, maravilhosas vizinhas e amigas do coração, abdicaram de comemorar o décimo primeiro ano de casadas para jantar connosco, para “não estarem sozinhos”. Também elas sabem o que é perder amigos de quatro patas. Uma coisa é certa, o nosso cão teve uma vida junto de pessoas que lhe queriam bem. Não se pode dizer o mesmo de muitos, muitíssimos, animais que as pessoas maltratam e abandonam. Não conseguimos ter já um outro cão na nossa vida, mas sabemos que iremos adoptar, como fizemos anteriormente. Há bichos com amor para dar e nós precisamos mais desse amor do que percebemos, quando os temos connosco. Quando morrem, a falta é quase insuportável.