Inscrito no Instituto de Emprego e Formação Profissional, o meu amigo, escuso-me a identificá-lo por razões que me parecem mais ou menos óbvias, chega atrasado a um jantar e, num desabafo, dá conta do dia de formação de Excel avançado que tem de frequentar. Não importa que o meu amigo tenha sido um gestor numa grande empresa e, claramente, um mestre no Excel. Nem importa realmente que, estando no desemprego, não arranje desculpas para não ir à formação. O que é relevante é entender o que se passa em contexto de formação, numa turma, vamos chamar-lhe assim, composta de gente diferenciada e que, na sua maioria, não queria aprender Excel.

Temos o senhor que queria mesmo era ter uma formação em jardinagem, a senhora a quem daria jeito aprender inglês, o jovem de trinta anos que não tem email, embora tenha Facebook, o sexagenário que não entende como foi ali parar. As duas primeiras aulas foram uma espécie de psicoterapia de grupo, conta o meu amigo, com algum desalento. As pessoas querem saber a razão pela qual estão ali, então não havia inglês? Jardinagem? Alguns esperaram um ano para começar formação e a maioria esperou e desesperou até conseguir ter o valor do subsídio de desemprego na respectiva conta bancária.

A conclusão a que se chega é que a formação serve para cumprir calendário e fornecer dados para estatísticas, não serve para muito mais do que isso. Há uns anos, a mesma situação foi vivida pela minha mãe. Infelizmente, viu o seu posto de trabalho eliminado e, antes de cumprir 60 anos, teve de se confrontar com a realidade: estou no desemprego; preciso de fazer formação; preciso de resolver a minha vida, como será o futuro? O futuro não lhe sorriu, novas oportunidades é mesmo para os mais novos. E as formações são, pelos vistos, aleatoriamente estabelecidas e convocadas as pessoas sem se apurar a sua capacidade ou formação prévia.

Ao nível da estatística está impecável? Está impecável.

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