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Sébastien Lecornu, 39 anos, autodefine-se “monge soldado”. É um fidelíssimo do presidente Emmanuel Macron que, ao renomeá-lo para chefe de governo da França, mostra como está sem alternativas para tirar o país da crise política que desliza cada vez mais para crise de regime, com as oposições a exigirem dissolução do parlamento (reclama à direita Le Pen) ou mesmo presidenciais antecipadas (exige Mélenchon, das esquerdas insubmissas LFI).
Macron perdeu a maioria política parlamentar nas eleições de 2022 e perdeu ainda mais nas europeias e nas legislativas antecipadas de 2024. Continuou, no entanto, a conduzir a governação como se nada tivesse acontecido e a excluir alianças.
A escolha de Lecornu evidencia que Macron persiste, em modo obsessivo que as oposições acusam de sem escrúpulo, na recusa de abrir o governo da França para fora da família política liberal que ele encabeça, apesar de repetidamente derrotada nas urnas. Em julho do ano passado, as esquerdas reunidas na Nova Frente Popular (NFP) foram a força mais votada nas legislativas antecipadas e propuseram um nome para a chefia do governo. Macron recusou, com o argumento de que com 180 eleitos, a NFP nunca conseguiria maioria estável para governar, dada a total incapacidade para negociação das duas forças políticas radicais que se tornaram principais no parlamento francês, a esquerdista NFP, de Mélenchon (180 dos 577 deputados), e o RN , de Le Pen e Bardella (142).
Macron aproveita o facto de estes partidos estarem fechados em diques políticos sem ponta de disponibilidade negociadora, para entregar a condução do governo ao terceiro dos blocos parlamentares, o grupo central, dele, com gente que tem tentado fazer pontes com as direitas (tem havido entendimentos sobre políticas restritivas da imigração).
Agora, com a crise em nível explosivo, Macron ensaia promover uma tímida abertura aos socialistas, aos ecologistas e até aos comunistas que tem tentado separar da NFP – embora a deixar espaço apenas mínimo para as propostas destas esquerdas.
Quando estão passados oito dos 10 anos de dois mandatos presidenciais, Lecornu é o sétimo primeiro-ministro que Macron nomeia. Todos (Édouard Philippe, Jean Castex, Elizabeth Borne, Gabriel Attal, Micel Barnier, François Bayrou e Sebastian Lecornu) com perfil de centro-direita encaixado no modelo macronista, Dois deles (Philippe e Attal) já se afastaram para se posicionarem fora da muito desgastada imagem de Macron, ambos com ambições nas próximas presidenciais, em 2027, se não houver antecipação.
Agora o escolhido é outra vez Sébastian Lecornu. É renomeado cinco dias depois de se ter demitido na manhã de segunda-feira, apenas 14 horas depois de ter apresentado o governo que tinha formado.
Agora o escolhido é outra vez Sébastian Lecornu. É renomeado cinco dias depois de se ter demitido na manhã de segunda-feira, apenas 14 horas depois de ter apresentado o governo que tinha formado. Lecornu demitiu-se em 6 deste outubro, após ter percebido em declarações de um dos escolhidos (Bruno Retailleau , líder da direita republicana LR) que ele também já estava em ação política autónoma, preparatória da campanha presidencial.
A demissão de Lecornu deixou Macron mais exposto às vozes que, à direita e à esquerda, clamam por eleições antecipadas.
Macron apostou num recurso para manter a estratégia. Pediu ao leal Lecornu que fizesse mais uma tentativa: agora, a puxar o centro-esquerda para o apoio ao governo.
O encargo é o de que Lecornu consiga dos socialistas e dos ecologistas concessões e um pacto que lhe permita, também com voto dos centristas macronistas, assegurar urgências políticas, a principal é a de dar u orçamento que permita à França lidar com a gravíssima crise financeira. O preço para conseguir passar é a suspensão da reforma da segurança social, no essencial, o abandono do aumento da idade da reforma.
É uma questão que pode levar ao impasse. Macron aceita que a questão fique em banho-maria com adiamento da decisão para depois das eleições presidenciais de 2027, congelando a situação no patamar atual, 62 anos e nove meses (a reforma, muito reclamada pelos financeiros, eleva a idade para os 64).
É a condição necessária colocada pelos socialistas para não apresentarem de imediato a censura ao governo, único recurso de sobrevivência do governo, quando os dois principais blocos de oposição em cada uma das extremas só quer eleições.
Lecornu tenta esse compromisso com o centro-esquerda. Por isso aceitou voltar a ser nomeado primeiro-ministro. Dispõe-se a apresentar na segunda-feira um gabinete governamental com perfil técnico, sem estar “aprisionado pelos partidos”. Mas os socialistas insistem que se a decisão for apenas a de adiar a reforma das reformas, então vão votar a censura ao governo.
Há um dado que contribuiu para a firmeza dos socialistas: as sondagens destes dias estão a baixar muito a cotação dos insubmissos LFI de Mélenchon, reduzidos a 8 a 10% das intenções de voto, enquanto a frente formada por PSF, ecologistas e comunistas oscila entre os 17 e os 20%.
Isto significa alteração, muito desejada pelo centro-esquerda, da corelação de forças dentro da NFP. A arrogância de Mélenchon tem sido vista como insuportável pelos parceiros da ala social-democrata. Olivier Faure, líder da PSF, sente que chegou o momento para serem os socialistas e não os radicais LFI a liderar a frente de esquerda em França.
As mesmas sondagens colocam a extrema-direita Rassemblement, de Le Pen e Bardella, na liderança de todas as sondagens com 32 a 35%.
Sébastian Lecornu continua a negociar com socialistas e ecologistas uma solução de governo. Sem eles, cai e a crise desaba ainda mais sobre o presidente que viu hoje a sondagem que mostra 85% dos inquiridos a desejar o fim da era Macron. Muita gente em França está a comentar que Macron se meteu num processo de autodestruição na condução política da França – que não consegue atenuar com o protagonismo internacional.
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