Pedimos as contas que medem o impacto orçamental das medidas que propõem e queremos saber com que cenário macroeconómico estão a trabalhar. Nalguns casos, até queremos saber que ministro das Finanças é que têm na cabeça e com as eleições presidenciais logo ao virar da esquina, estamos todos curiosos para saber quem vão apoiar nessa corrida.

Mas, estranhamente, conseguimos viver muito bem sem um dado fundamental: se ganharem sem maioria parlamentar, como pensam governar o país? Avançam para uma governação equilibrista de mínimo múltiplo comum, procurando apoios lei a lei e contando com abstenções calculistas ou interesseiras? Recusam esta luta diária pela sobrevivência e entregam o assunto ao Presidente da República? Ou vão procurar uma aliança estável com outras bancadas parlamentares? Quais?

A questão da governabilidade coloca-se nesta eleição mais do que nunca

Primeiro, porque as sondagens teimam em apontar para uma indefinição quanto ao vencedor. Há um ano os cenários eram sobre o tamanho da vitória do PS e se conseguiria ou não chegar à maioria absoluta. Neste momento, a grande surpresa será que alguém consiga aproximar-se dessa maioria absoluta.

Depois porque, mais do que em qualquer outro momento das duas últimas décadas, a situação do país não está para instabilidades nem incertezas políticas. Os juros baixos com que o Estado se tem financiado nos últimos meses podem acabar rapidamente se entrarmos num impasse governativo.

Por fim, porque a realização da eleição presidencial no início do próximo ano cria um longo período em que os instrumentos constitucionais à disposição do actual e futuro inquilino de Belém são muito reduzidos. Cavaco já não pode dissolver o Parlamento por estar no último semestre de mandato e o seu sucessor também não pode fazê-lo durante os primeiros seis meses de exercício do cargo.

O que é estranho é que perante esta potencial tempestade perfeita, vamos convivendo bem com o absoluto silêncio dos principais candidatos em relação às suas soluções de governo.

Contentamo-nos com os chavões estafados do género “não ponho outra hipótese que não seja vencer as eleições” ou “não comento cenários”. Como se a possibilidade de uma derrota fosse uma anormalidade democrática ou um programa eleitoral não fosse, no essencial, um trabalho de cenários.

Argumenta-se que falar sobre uma política de alianças pós-eleitorais pode ser desmobilizador dos exércitos partidários e eleitorais. A sério? Vá lá, já nem o menos astuto dos treinadores de futebol utiliza essa psicologia de algibeira. Vamos assumir de uma vez por todas que os eleitores não são criancinhas nem mentecaptos? E que até podem valorizar o realismo e modéstia que significam a admissão de uma derrota?

É fundamental perceber como vão Pedro Passos Coelho ou António Costa governar preferencialmente se ganharem sem maioria absoluta. Como vão fazer aprovar o próximo Orçamento do Estado? Como vai passar o programa do Governo no Parlamento?

Ou, em caso de derrota, se estão dispostos a viabilizar um governo do adversário e sujeito a que “linhas vermelhas” que recusam ultrapassar.

Sobre estas questões essenciais - relevantes também para aferir do sentido de Estado dos protagonistas - pouco ou nada sabemos. Sabemos apenas que António Costa não viabilizará um Orçamento do próximo ano do PSD/CDS, caso a coligação vença. E de Passos conhecemos há muito a sua intenção de procurar entendimentos para a reforma da Segurança Social.

Mas e o resto? Ganhando sem maioria como pretende governar o PS? Vai procurar entendimentos com o PCP e o Bloco de Esquerda? Ou, apesar de dizer o contrário - a tal psicologia básica do “só admito ganhar com maioria” -, vai procurar apoio ao partido que lhe está mais próximo, o PSD? Vai antes tentar entender-se com o CDS?

E Passos e Portas? Chamam o PS para uma trégua? Ou governam sem maioria, já que um entendimento com os partidos mais à esquerda nem teoricamente parece possível?

Algumas desta soluções estão tão distantes entre elas como o dia da noite. E, no entanto, são cenários verosímeis para a noite do dia 4 de Outubro.

Mas é na mais absoluta cegueira em relação às alianças preferenciais das duas maiores candidaturas que os eleitores vão decidir o seu voto. É lamentável, porque este é um dado essencial no contexto em que esta eleição está a decorrer.

E, com elevada probabilidade, na noite do dia 4 de Outubro não estaremos apenas a discutir quem ganhou e porque ganhou. Mais importante do que isso será perceber o que vai o vencedor fazer com aquela vitória.

Para além da campanha

Com a inauguração das "tracking pools" - inquéritos regulares repetidos junto da mesma amostra de pessoas para tentar aferir a evolução da opinião do universo - as sondagens estão a ser um dos protagonistas incontornáveis desta eleição. E, já se sabe, são um teste do algodão à honestidade intelectual de muita gente: se elas fornecem resultados a favor, são instrumentos sérios de avaliação do sentimento dos eleitores; se apontam para resultados desfavoráveis, são mal feitas, com amostras pequenas e tecnicamente incomptentes. À margem da espuma eleitoral é obrigatória a leitura do artigo de Pedro Magalhães, sobre a forma como tomamos o pulso à opinião pública.

Os políticos sabem como é: a reputação demora uma vida a fazer-se mas perde-se num dia. A Volkswagen é o mais recente exemplo disso mesmo, depois de ter feito batota na medição das emissões poluentes dos seus automóveis. As multas vão ser caras mas pior do que isso é o rombo na imagem de uma das marcas automóveis mais consistentes. As culpas já estão assumidas. Agora vamos ver se temos aqui um "case study" na gestão da crise.

A eleição mais importante para a Europa não é a nossa. É a da Catalunha, que se realiza este domingo. Com os independentistas à frente nas sondagens, a caixa de Pandora pode abrir-se. Não está fácil a vida em Madrid.

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