Portugal deve ser o país com mais festivais de verão por habitante. Há festivais para todos os gostos e, apesar de muita gente gostar de coleccionar as pulseiras de todos, a maioria não tem possibilidades financeiras e tem de decidir a quais tem mesmo de ir. Por isso, deixo aqui um pequeno resumo para ajudar todos aqueles que não conseguem passar um verão sem ter aquela bela foto de um festival de música em que não viram concerto nenhum:

Festival MED – Acontece em Loulé e é a única forma de atrair pessoas para uma zona do Algarve, no verão, que fica a 15 km da praia. Dizem que este festival na terra da Tia Anica é giro, mas nunca lá fui, aguardo convites depois desta crónica. O nome foi mal escolhido, sempre que oiço penso que é um festival de médicos que bebem shots de tubos de ensaio e andam a oferecer apalpações mamárias de borla.

VOA Heavy Rock Festival – Jovem, usas cabelo comprido, tens várias t-shirts pretas de várias bandas que usam caveiras como ilustração e sabes fazer cornos com os dedos? Este festival é para ti. Vem abanar a cabeça até ficares tonto que sai mais barato do que fumar droga.

MUSA Cascais – Um festival de Reggae que, apesar de dizer Cascais no nome, acontece na praia de Carcavelos, mas isso poderia afastar alguns betos surfistas. Prima pela sustentabilidade e ecologia, dizem, o que significa que todo o cartão é aproveitado para filtros e todas as facturas servem para mortalhas.

Sumol Summer Fest – Por falar em betos surfistas, se és beto e possuis uma prancha de surf que levas a passear à praia, mas achas que és muito rebelde porque curtes Piruka e fumas umas ganzas? Então, este festival é para ti! Um festival patrocinado por uma bebida não alcoólica é como uma marca de carros patrocinar um evento de BTT.

EDP Cooljazz – Queres ver a Diana Krall pela trigésima vez em Portugal para fazer umas stories e mostrar aos teus amigos que és muito intelectual? Então, aparece no Hipódromo Manuel Possolo que tens lugar para estacionar o cavalo.

NOS Alive – É uma espécie de Coachella da Primark, onde as pessoas quase que passam mais tempo a escolher o outfit do que na fila da casa de banho. No fim, podes ter de andar dois quilómetros a pé até conseguir um Uber, se estiveres disposto a pagar tarifa dinâmica.

Super Bock Super Rock – Um festival tramado para quem prefere Sagres e que este ano volta ao Meco. Evitar levar traje académico, embora a capa dê jeito para servir de protecção contra a poeira. Um dos cabeças de cartaz são os Migos que podes ir ver com as tuas migas bff com quem já não vais falar daqui a seis meses porque, entretanto, a Carlota começou a andar com o Bernardo e ela sabia que era a teu crush.

MEO Marés Vivas – Com Keane e Snow Patrol, parece que voltamos a 2006, mas como tem Ornatos Violeta desculpo tudo e já faz valer o bilhete, embora também tenha outros que por si só já tornam o bilhete demasiado caro, mas não vou referir nomes para não ferir o ego de ninguém.

Festival Músicas do Mundo – Um festival de músicas alternativas do mundo, onde rumam muitas pessoas com cabelo às cores que um gajo nunca sabe se são youtubers ou pessoas carentes de atenção. Fica sempre bem dizer que se foi lá para depois, em conversas com os amigos, referir que se adorou o Bucetis Pintus, músico Azeri que usa uma mistura de trap pimba com jazz retro ucraniano.

MEO Sudoeste – Mais um festival da MEO só para esfregar na cara da Vodafone e da NOS que só têm um. É um festival ecléctico que mistura betos com mitras. Os betos vão acampar pela primeira vez e brincar aos pobres; apanham comas alcoólicos e são assaltados pelos mitras que roubam tudo o que há dentro das tendas, mas os betos não se importam porque os pais pagam. O bonito deste festival é que no final os betos e os mitras já não se distinguem porque esteve tudo sem tomar banho.

NEO Pop – É um festival em Viana do Castelo de música electrónica e, como tal, atrai pessoas que gostam de dançar, mas também pessoas que gostam de drogas sintéticas e que têm carros com chamas estampadas nos lados e panelas de escape rotas a emitir aquele som de acasalamento dos mitras do tunning.

Vagos Metal Fest – Tiveste aquela fase gótica na adolescência, mas ao contrário das pessoas normais não a ultrapassaste? Tens 50 anos e continuas a usar cabelo comprido e a vestir-te todo de preto, com ar de mau para esconder o facto de no fundo seres muito sensível? Então este festival é para ti. Moches e pessoas que cantam que nem um porco na matança são as grandes atracções deste festival.

Bons Sons – Usas fitas na cabeça, tens bigode e achas que os Capitão Fausto são melhores do que o Fausto? Este festival é o indicado para ti, onde poderás conhecer bandas emergentes para depois fazeres pirraça aos teus amigos hipsters, dizendo que já os conhecias antes de eles serem famosos e que agora já nem gostas deles porque ficaram muito comerciais e até já lhes pagam para actuar e isso é bué comercial.

Vodafone Paredes de Coura – O ambiente é idílico e pode respirar-se ar puro entre as pausas dos cigarros. É frequentado por aquele pessoal que diz que “tem projectos” e por betas agro-chiques. Tentei investigar mais, mas o site não estava a funcionar bem.

O Sol da Caparica – Deu prejuízo de 5 milhões, em edições anteriores, à Câmara de Almada, mas este ano volta com cara renovada. Continua a ter música exclusivamente cantada em português, mas além de música também tem os D.A.M.A.

EDP Vilar de Mouros – Quem for da minha geração tem aqui uma oportunidade de ir relembrar a adolescência com Offspring, Skunk Anansie e outros, levando as pessoas a pensar que isto é um Revenge of the 90’s, mas não.

Festival do Crato – Um festival para toda a família onde os filhos pequenos no fim vão perguntar “Mãe, o que é que significa aquilo que o Dillaz disse de fazer o buço à buceta?”. Não se assustem por ficar quase no fim do mundo em pleno Agosto, tem piscinas e cerveja fresca.

Festa do Avante! – A festa comunista onde vai todo o tipo de gente, especialmente os mitras da margem sul que não sabem quem foi Karl Marx. Vão pela música? Claro que não, vão porque se fuma boa ganza por lá. Militantes do CDS também vão, mas disfarçados com uma barba de Fidel. Os ateus festejam o Natal da mesma forma que o pessoal de direita festeja o Avante! e também vemos pessoal de esquerda, com t-shirt do Che Guevara, a gritar “Abaixo o capitalismo!” enquanto fazem stories no seu iPhone novo.

RFM Somnii – Um grupo de pessoas viradas para o mesmo lado a curtir a playlist de um DJ que se limita a carregar no play e fingir que mexe nos botões. As pessoas dançam apenas com um braço no ar numa espécie de saudação nazi tímida.

Este ano não há Rock in Rio, antigo festival de rock que se tornou num festival pop e que tem a artista residente: Ivete Sangalo. Peço desculpa se me esqueci de alguns festivais, mas não havia espaço para tudo. Espero que tenham fair-play e não sejam como muita gente do Festival Boom que, no ano passado, não aguentou uma piada, apesar de viverem em comunhão com a natureza e em paz com o seu ego. Aliás, o Boom acontece de 2 em 2 anos, mas podia ser anual, já que a maioria do pessoal que lá vai já se esqueceu e nem sabe em que ano estamos.

Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:

Para ver: I Am Mother, no Netflix

Para ir: A um festival qualquer

Para rir: O meu espectáculo, Só de Passagem, em Viana do Castelo, Porto e Barcelona.