Oito mil milhões de euros é quanto vai custar o novo aeroporto. E estamos a falar só do aeroporto, porque depois há todas as infra-estruturas rodo e ferroviárias que o vão tornar acessível à capital e ao resto do país e que ainda é preciso construir.

Oito-mil-milhões - já experimentou contar até oito mil milhões? Se calhar, algum decisor político devia fazê-lo. Nem que fosse como castigo. Para dar uma ideia, este ano Orçamento do Estado para a Educação é de 6,9 mil milhões de euros. Ou para dar duas: Fernando Medina, ministro das Finanças, anunciou que vai baixar os impostos em 2,2 mil milhões até 2027.

Bom, afinal o aeroporto não vai custar bem oito mil milhões. A solução Alcochete, que a CTI favorece por ser "a que tem melhores condições para avançar", custa 8.258 milhões. A solução Vendas Novas, que poderia ser favorita caso tivesse um projecto, custa 8.170 milhões de euros. Isto segundo as contas da Comissão Técnica Independente que fez a análise e avaliação estratégica das várias opções.

O aeroporto vai então custar um "bocadinho" mais de oito mil milhões, oito-mil-duzentos-e-cinquenta-e-oito-milhões. No máximo. E se não houver derrapagens e for tudo, tudo, tudo como está no papel. Que nunca é. No caso de Alcochete, ainda é preciso acrescentar mais dois mil milhões de euros para a terceira travessia do Tejo, que será indispensável, e somar mais os 4,5 mil milhões do comboio de alta velocidade que virá por aí abaixo (obras a começar em 2024, dizia-se), e já os custos do aeroporto estão a ir por aí acima.

E num estalar de dedos já vamos nos 15 mil milhões de euros. Que é, mais coisa menos coisa, a despesa com a Saúde prevista no Orçamento do Estado para 2023.

Oops, espera. Isto é se a ANA - Aeroportos de Portugal, detida pelos franceses da Vinci, que tem a concessão dos aeroportos nacionais até 2063, estiver de acordo com a solução encontrada, seja a sugerida pela CTI, que não tem valor vinculativo, seja a decidida pelo poder político (seja lá quem for que venha a estar no poder nessa altura). Se não, o Estado português tem de lhe pagar uma indemnização que, no mínimo, custará mais oito mil milhões de euros.

E, de repente - é Natal! é Natal! - ultrapassámos a barreira dos 20 mil milhões. Ainda assim, logo no início do relatório, a CTI garante: "Todas as opções são financeiramente viáveis, não sendo necessário financiamento público para a construção do novo aeroporto". Eu gostava de ter tanta certeza (e, já agora, de ver as contas a demonstrá-lo).

O que nos falta em dinheiro sobra-nos em imaginação. Cada vez que oiço um político falar de dinheiro, do nosso dinheiro, fico à espera de saber quando vai bater com a cabeça na mesinha de cabeceira e acordar. Ele ou eu. Aliás, se as coisas fossem diferentes o país não se tinha endividado como se endividou (dívida pública estimada em 104,5% do PIB para este ano).

Portugal precisa de um novo aeroporto (como precisa de TGV). Mas também precisa de saúde, de educação, de habitação, de menos impostos ou de salários mais altos. Eu também gostava que o país fosse rico, chic a valer, para usar a expressão de Dâmaso Salcede, de Eça de Queiroz. Não é. E se, para o bem e para o mal, é preciso decidir, o que não é preciso é construir castelos no ar. Senão, o aeroporto de que estamos hoje a falar não servirá para muito mais do que para continuar a levar os jovens portugueses daqui para fora.

P.S.

Rosário Partidário começou a sua apresentação com estas palavras: "A Comissão Técnica Independente é independente. Sempre foi. Porque não está sujeita a orientações de qualquer tutela político-administrativa e não tem preferências individuais ou profissionais em relação a qualquer das opções estratégicas".

E, no entanto, pelo menos seis técnicos de alguma forma envolvidos nos trabalhos da CTI manifestaram a dado momento preferência por Alcochete ou elaboraram trabalhos específicos sobre essa opção para a instalação do novo aeroporto.

P.P.S.

Parecemos, às vezes, em país a fingir. Não chega a situação em que nos encontramos, ainda o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, marca dia e hora para oficializar demissão do governo. No caso, dia 7 de Dezembro (talvez à hora do jantar).

Percebo a conveniência - o governo aprovou só no Conselho de Ministros de hoje 35 diplomas -, mas o ridículo é maior do que a rábula da "Guerra" Raúl Solnado, com horas para abrir, horas para fechar e intervalos para ir à casa-de-banho.