Como se vive agora no Afeganistão? Em miséria e repressão, é a evidência em todos os testemunhos que chegam cá fora. É um país onde os direitos humanos deixaram de valer.
As mulheres são as principais vítimas do retorno dos talibã ao poder. Mas o medo está instalado e coloca em pesadelo a vida de todos os que não fazem parte do aparelho do fundamentalismo religioso. As perseguições por “brigadas populares” são o quotidiano.
É facto que há relatos de bons exemplos de resistência, com muitas mulheres valentes. Há as que se manifestam com cartazes em que reclamam “pão, trabalho e liberdade” – mas são logo reprimidas.
À desgraça de ter acabado o apoio internacional, junta-se o corte de contactos com o mundo e o mergulho da sociedade num molde medieval.
Multiplicam-se as interdições e os talibãs estão por todo o lado a vigiar. As fronteiras estão fechadas, ninguém pode sair do país.
Às mulheres, obrigadas ao uso de véu integral, está cancelado o direito à vida pública. Estão submetidas à tutela de um homem da família próxima. Estão impedidas de acesso ao ensino secundário e superior. A maioria das mulheres perdeu o emprego que tinha, fosse a vender hortaliça no mercado ou mesmo roupa em lojas.
Muita gente chora pelos direitos conquistados nos anteriores 20 anos e agora perdidos.
Há pessoas que tinham atingido o estatuto de classe média. Muitas dessas pessoas estão agora atiradas para a mendicidade. Há as que se escondem para não mostrar a pobreza em que caíram.
Há mais de 24 milhões de pessoas que precisam da ajuda alimentar que não conseguem receber. Significa que mais de metade do país vive com fome. Há alertas para uns 6 milhões de crianças e fome extrema.
A miséria leva a que famílias desesperadas vendam as filhas com 12 anos e até menos para casamentos forçados.
A única via que o governo talibã está a usar para dar vida à economia do país é o recurso à energia fóssil, danosa para o clima: exploram o carvão, abundante em regiões do norte do país. Exportam-no para o Paquistão. O trabalho nas minas de carvão é o principal emprego no país.
O Afeganistão são pessoas, 37 milhões. A maioria sofre de modo cruel.
Perante a atual miséria que é a vida no Afeganistão, o que é que a comunidade internacional tem o dever de fazer? Voltar à diplomacia e ajudar.
Manter o corte no diálogo com o governo que a retirada ocidental colocou no poder em Cabul – e isto mostra o fracasso de 20 anos de intervenção ocidental – significa abandonar as pessoas e entregá-las ao desespero.
A maioria da população afegã pôde sonhar nas últimas duas décadas com as promessas de vida melhor. Neste último ano, com o retorno dos talibãs – eles instalaram-se com boas promessas de abertura, mas que logo deixaram cair – tudo se desmoronou.
O Afeganistão é gente. Há que encontrar modo para ajudar essas pessoas.
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