Em primeiro lugar, a política. António Costa tomou o poder com a promessa de uma nova Esquerda, com a queda dos muros, com uma influência reforçada do Parlamento, mas a prática mostrou o contrário. Quando foi necessário, para aprovar o Orçamento Retificativo, voltamos ao centro, ao bloco central, porque essa nova Esquerda desfez-se. O que é que isso nos diz? Costa foi capaz de alargar o seu efetivo apoio parlamentar, e isso dá-lhe um novo fôlego, e talvez explique porque é que Paulo Portas foi embora.
Vamos ter momentos tensos em 2016 ao nível político, sim, o caminho será estreito para Costa, sobretudo quando prometeu quase tudo a quase todos. A realidade impõem-se sempre à ideologia, e Portugal ainda não tem condições para sobrepor a segunda à primeira. Se calhar, nunca terá. O Orçamento do Estado para 2016, o Programa de Estabilidade para os cinco anos seguintes e o Orçamento de 2017.
A estes três momentos, Costa e Centeno têm de executar as contas deste ano, e do seu sucesso depende o futuro do governo, e do país. Mais salários na Função Pública, menos sobretaxa de IRS, mais pensões. Quem está contra? Se passar o mês de Outubro, passa a estar sobretudo nas mãos do primeiro-ministro o calendário político, e o Governo cairá quando lhe der jeito.
Depois, já este mês, Marcelo Rebelo de Sousa vai ser eleito Presidente, provavelmente à primeira volta. Não é uma previsão difícil, mais difícil é saber o que será Marcelo Presidente? Igual a Marcelo-comentador, criador de fatos políticos? Será seguramente anti-Cavaco, vai dessacralizar a função, vai ser mais Soares, a todos os níveis. E isso vai também alargar o debate político. Da residência oficial em São Bento ao Parlamento, passando por Belém. Num equilíbrio ao centro. Outra vez.
Em segundo lugar, a economia e as contas públicas vão ditar o tom do andamento. Portugal estava a crescer, pouco, mas a crescer, depois dos anos da troika. A confiança tinha regressado. Tinha, porque agora, está abalada pelo que sucedeu no sistema financeiro, na queda controlada do Banif à custa dos contribuintes e na solução para salvar o Novo Banco que afetou os investidores internacionais. E em 2016, isto não vai parar por aqui. A digestão da crise, das cumplicidades, dos interesses, é difícil e demora tempo. Vem aí a Caixa Geral de Depósitos e, veremos, se vamos descobrir outros esqueletos.
Como é que uma economia pode crescer sem banca? Não pode, por causa do dinheiro e, sim, da confiança. É fácil hoje – e vende – insultar os banqueiros, são alvos de todos as críticas. Muitas injustas, porque cada caso é um caso, cada banqueiro tem a sua história. Para já, perderam a reputação, não a confiança. Mas têm de perceber que para manterem a confiança, têm de mudar de vida. Por sua iniciativa. As mudanças regulatórias, as novas regras, a supervisão europeia, são necessárias, mas não são suficientes. Sobra, aqui, claro, o Banco de Portugal, ele própria a precisar de uma resolução, que separe o bom do mau.
Costa e Centeno prometem muito, mais crescimento – veremos quanto já em Janeiro -, menos desemprego, e tudo com défice controlado e dívida pública a cair. Só possível porque nem tudo foi mal feito nos quatro anos anteriores, basta perguntar ao senhor Tsipras, agora desaparecido dos jornais. Gostava de acreditar. Sobretudo com tanta reversão anunciada, das leis laborais às privatizações.
Para já, os beneficiados por mais rendimento estão satisfeitos, e percebe-se, mas a que custo? Sobretudo, num contexto internacional que continuará difícil, apesar dos juros baixos, do euro desvalorizado e da queda do petróleo que é a maior transferência de riqueza internacional de que há memória, entre os países produtores e todos os outros.
O ano de 2016 será, por isso, menos novo e mais do mesmo ciclo que vivemos em 2015. Poderia ser diferente, mas não era a mesma coisa.
A escolha para 2016
Em 2015, levámos um murro no estômago, daqueles que ficam. Os refugiados que chegaram, a pé e de barco, à Europa, em condições desumanas e com uma Europa a discutir números. A fugirem à guerra, ao terrorismo. Imagens brutais, que, banalizadas, desapareceram do nosso dia-a-dia. Mas só as imagens desapareceram, os refugiados continuam a chegar, e muitos a morrer às portas da nossa Europa. A TVI convidou João Gil e o coro da Gulbenkian a comporem uma música que não nos deixe esquecer. Que nos atormente, para obrigarmos quem decide a decidir.
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