O último afundanço de Kobe

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Não sou grande fã de basquetebol. Durante grande parte da minha infância, todo o meu conhecimento sobre NBA, aquela que é aclamada como a melhor liga do mundo, resumia-se a um par de chinelos dos Chicago Bulls herdados do meu pai, um grande fã de Michael Jordan.

Ele, que também não era um fanático pela modalidade, não escapou a Jordan. Eu, militante catedrático do futebol, alheado de 99% das bolas que davam e não davam entrada nos cestos do outro lado do Atlântico, não escapei a Kobe Bryant.

Lia e ouvia os que ficavam acordados nas madrugadas a falar de um homem que se tornou maior que o desporto, num exemplo de profissionalismo e dedicação que mostrou bem a influência que uma bola nos pés ou nas mãos certos pode ter na mudança do mundo.

Durante anos, Kobe viveu, para mim, numa bolha que era o mundo do basquetebol. Não o via chegar até mim até ao dia em que o André, um grande amigo de infância, passou a usar nas aulas de educação física, com a mesma frequência que usava o equipamento do FC Barcelona com o 10 de Ronaldinho Gaúcho, a camisola dos Lakers com o número 24. E se era inegável o talento do ‘Andrézinho’, como lhe chamávamos na altura, para as jogatanas de bola nos pés, temos de admitir que no basquetebol estava a uns largos centímetros de distância do que ele podia aspirar. Lado a lado, as duas camisolas davam-me a real perceção de quem era Kobe Bryant: alguém cujo talento não se cingia ao perímetro do retângulo de jogo e cuja influência não encontrava barreiras.

Era um mundo.

Segui-o no que pude, menos do que devia. Lembro-me do último jogo antes da reforma, daqueles 60 pontos aos 37 anos. Lembro-me de ontem sentir aquele aperto. Parecia impossível de acreditar.

Hoje o mundo acordou sem Kobe e foi bonita a homenagem nas primeiras páginas da imprensa desportiva mundial, à exceção da portuguesa onde as capas se fizeram em tom de vermelho e branco, com a vitória do SL Benfica no jogo de ontem frente ao Paços de Ferreira, numa clara demonstração de que não temos nenhum jornal desportivo na sua essência, mas sim cadernos futebolísticos, alimentados pelos três grandes.

Felizmente aqui não foi assim. Como não tem sido em casos anteriores - de Mário Soares a Mário Wilson ou Marielle Franco. Não é da forma que queríamos, mas hoje o dia é de homenagem a um dos grandes, Kobe Bryant. Às 21h30, é só dele que iremos falar num episódio do Bola ao Ar que, por todas as razões, não será mais um apenas. Conduzido pelos dois maiores fãs de NBA que conheço, o João Dinis e o Ricardo Brito Reis, terá como convidado o jogador do Sporting CP Francisco Amiel, mas será uma oportunidade para todos os que gostam de NBA poderem partilhar as suas memórias de um dos grandes, senão o maior.

Imagino que não vá ser um episódio fácil, certamente não será o episódio que eles queriam para hoje, mas com certeza que será a melhor hora que, na parafernália de ditos e não ditos sobre o trágico acidente que vitimou uma das lendas do basquetebol, irão ouvir sobre Kobe.

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