O Natal do vírus mutante

Pedro Soares Botelho
Pedro Soares Botelho

Boris Johnson "cancelou" o natal no sul do Reino Unido. O primeiro-ministro britânico, chefe do governo do primeiro país europeu a vacinar com a solução da Pfizer/BioNTech, reconheceu que a covid-19 segue a crescer e teve de proibir reuniões e apelar à contenção.

Cancelar o natal não é ignorar que existe no calendário um dia 25, saltar de 24 para 26. É adiar a visão tradicional para garantir que ela se pode repetir num outro futuro. Assim, Boris Johnson anunciou hoje que Londres e o sudeste de Inglaterra vão, amanhã, entrar novamente em confinamento, sendo proibidas as reuniões natalícias e encerrado o comércio não essencial para travar a propagação da covid-19 nas duas regiões.

Segundo Boris Johnson, o aumento do número de casos do novo coronavírus obrigou a subir o nível de alerta de 3 para 4, o mais elevado imposto desde o início da pandemia, o que implica o encerramento do comércio não essencial, como cabeleireiros e locais de lazer internos.

Falando aos jornalistas numa conferência de imprensa após uma reunião do gabinete britânico, Johnson indicou também que a prevista “flexibilização” de cinco dias nas restrições de socialização, o que vai permitir que até três famílias se reúnam no Natal, está cancelada nas zonas onde entrará em vigor o nível 4.

O primeiro-ministro britânico salientou também que o sudeste de Inglaterra, onde foi detetada uma nova variante da covid-19, seguirá os mesmos passos e regras do confinamento em Londres, pelo que serão reforçadas as restrições durante o período natalício.

As autoridades britânicas já alertaram a Organização Mundial de Saúde sobre a descoberta da nova variante, que se espalha com maior velocidade, embora não haja evidências de que seja mais letal ou que possa ter impacto na eficácia das vacinas desenvolvidas contra a covid-19, embora este ponto esteja ainda a ser avaliado “com urgência para confirmação”.

O Reino Unido está incluído na lista dos 10 países com maior número de infeções e de mortes associadas ao novo coronavírus — mais de 1,9 milhões de casos, 66.541 óbitos. A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.662.792 mortos resultantes de mais de 74,8 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Portugal mantém prevista uma relativa abertura para o Natal. António Costa não pode dizer o mesmo, já que o primeiro-ministro ficou em isolamento praticamente até ao final de 2020. Ainda assim, o país registou hoje mais 86 mortes. Olhar para trás, para a ansiedade com que a primeira morte foi registada em Portugal é um contraste arrepiante.

Hoje, morrerem 86 pessoas é quase banal. São só mais 86. 86 que se somam num total de 6.063 mortes relacionadas com a covid-19. Desde o início da pandemia, Portugal já registou 370.787 casos de infeção pelo vírus SARS-CoV-2, estando hoje ativos 69.910.

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