Naufrágio no sul de Itália. A tragédia que "não pode continuar a ser ignorada"
Esta manhã, um barco de madeira com cerca de 200 pessoas a bordo naufragou ao largo da costa sul de Itália, matando cerca de 60 pessoas, entre elas muitas crianças. Um dos sobreviventes foi detido pelas autoridades por suspeita de tráfico ilegal de migrantes.
O naufrágio voltou, uma vez mais, a trazer para cima da mesa a discussão sobre migração na Europa, num momento em que na Itália as leis contra a migração ilegal foram, recentemente, alteradas pelo novo governo de Meloni.
A Itália é um dos principais destinos de migrantes que chegam de barco a partir do Norte de África para a Europa devido à sua localização geográfica. De acordo com o Ministério do Interior italiano, cerca de 14 mil migrantes desembarcaram no país desde o início do ano.
Há muito tempo que Roma tem demonstrado descontentamento pelo número de chegadas ao seu território.
Por essa razão, a nova primeira-ministra, Giorgia Meloni, líder do partido de extrema-direita Fratelli d’Italia (FDI), chegou ao governo de coligação, em outubro de 2022, depois de prometer reduzir o número de migrantes que chegavam à Itália.
Mas a nova lei, recentemente aprovada pelo parlamento dominado pela extrema-direita, tem um sério problema: não salvaguarda a segurança das pessoas.
A “lei Meloni” para a migração obriga os navios humanitários a fazer apenas um salvamento de cada vez, o que, segundo os críticos, aumenta o risco de morte para quem atravessa o Mediterrâneo central, travessia considerada a mais perigosa do mundo para migrantes.
Sobre o trágico acidente de hoje, a primeira-ministra disse que o seu Governo está empenhado em evitar a partida de barcos em condições que resultam em tragédias como a de hoje, e prometeu continuar a fazê-lo, “exigindo sobretudo a maior colaboração dos Estados de partida e de origem”.
É “criminoso colocar um barco de 20 metros com 200 pessoas a bordo e uma previsão do mau tempo” no mar, sublinhou Meloni.
A reforma política e comunitária de migração e asilo europeia continua a dividir
Esta tarde, Ursula Von der Leyen disse estar “profundamente triste" com o naufrágio na costa da Calábria. “A perda de vidas de migrantes inocentes é uma tragédia”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, apelando aos Estados-membros que acelerem as negociações para alcançar um acordo sobre a política migratória.
“Devemos todos redobrar esforços conjuntos no Pacto sobre Migração e Asilo e no Plano de Ação para o Mediterrâneo Central”, acrescentou.
A presidente do Parlamento Europeu também manifestou a sua tristeza com o acidente demonstrando estar de “coração partido” e “raiva”: “outro naufrágio que ceifou a vida de bebés, mulheres e homens”, disse.
Roberta Metsola sublinhou o mesmo que Von der Leyen e recordou os planos que estão “sobre a mesa para atualizar e reformar as regras europeias de asilo e migração”.
Para Metsola, a situação não pode continuar a ser ignorada, “os Estados-membros não devem deixá-los lá”.
“Podemos ser justos e humanos com aqueles que precisam de proteção, duros com aqueles que não precisam e fortes contra traficantes que exploram as pessoas mais vulneráveis”, destacou.
Já vai para mais de dois anos o impasse entre os vinte sete Estados-membros sobre o Pacto de Migração e Asilo e o Plano de Ação para o Mediterrâneo Central.
Os chefes de Estado e de Governo abordaram o debate sobre a migração, numa cimeira, em 10 de fevereiro, e concordaram em tomar medidas para acelerar o regresso dos migrantes irregulares e aumentar os fundos para a proteção das fronteiras externas.
No entanto, a Áustria e outros sete países, têm-se posicionado contra e insistem na “construção de muros”.
*com Agências
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