Recusa da entrada da delegação da CEDEAO pode levar a intervenção militar no Níger

O Níger vive desde final de julho uma crise política. No dia 26 desse mês, a junta militar denominada Conselho Nacional para a Salvaguarda da Nação fez um golpe de Estado e anunciou a destituição do Presidente, Mohamed Bazoum, que se encontra preso, na companhia da família, no palácio presidencial. A junta militar também suspendeu a Constituição, acabando por formar um Governo de 21 ministros para liderar o período de transição, e prometeram eleições em breve.

Hoje, os militares golpistas recusaram a entrada a uma delegação tripartida da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), União Africana e ONU que deveria reunir-se hoje em Niamey com a junta militar no poder. A razão? Consideram a missão do CEDEAO "inútil", pois já "conhecem a posição" desta aliança perante as sanções financeiras e comerciais impostas pelo bloco regional.

Os chefes de Estado e de governo da CEDEAO já têm agendada nova cimeira extraordinária, em Abuja, para debater a situação e qual o próximo passo, num cenário de intervenção militar que poderá concretizar-se após o término, no passado domingo, do prazo de uma semana dado pelo bloco regional aos golpistas para a reposição da ordem constitucional e a recondução de Bazoum na Presidência.

Todos os presidentes do bloco da África Ocidental participam nesta cimeira, com exceção da Gâmbia, da Libéria e de Cabo Verde, que enviaram representantes. Os presidentes do Burundi e da Mauritânia, que não são membros da CEDEAO, mas foram convidados pela organização, também participam na cimeira e estão igualmente presentes representantes da Argélia, da Líbia, da Organização das Nações Unidas e da União Africana.

De partida para essa cimeira, o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, afirmou que Mohamed Bazoum "é o único chefe de Estado do Níger, apesar do golpe dos militares". Ainda sem saber o que vai acontecer o Embaló também explicou que caso seja aprovada a opção armada o país vai “imediatamente” convocar o Conselho de Defesa Nacional da Guiné para analisar qual a sua posição: se envia ou não militares.

Já o Presidente da Nigéria, Bola Tinubu, defendeu que a "negociação diplomática" deve ser a "pedra angular" da abordagem da CEDEAO com a junta militar.

“É crucial que a prioridade sejam as negociações diplomáticas e o diálogo como base da nossa abordagem”, afirmou o Presidente da Nigéria, que detém a presidência rotativa da CEDEAO.

Se houver uma intervenção militar, a junta que tomou conta do poder já afirmou matar o Presidente deposto, segundo disseram funcionários ocidentais, sob condição de anonimato, aquando da visita da sub-secretária de Estado dos Estados Unidos da América Victoria Nuland a Niamey.

Em comunicado, no dia 3 de agosto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal informou da retirada de nove dos dez cidadãos nacionais do Níger, explicando também que "a disponibilidade e apoio dos parceiros europeus, e em especial das autoridades francesas e da delegação da União Europeia em Niamey, foram fundamentais para a conclusão desta operação de evacuação que permitiu a saída de cidadãos nacionais e de cidadãos cabo-verdianos, em segurança, do território nigerino".

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