Legislativas: será que afinal o caminho é pela esquerda?

Beatriz Cavaca
Beatriz Cavaca

Os primeiros momentos que se seguiram às eleições pareciam apontar muitas dúvidas, mas uma certeza parecia estar no ar. A direita tinha ganho estas eleições e a AD (Aliança Democrática), liderada por Luís Montenegro, era o partido vencedor e com mais condições para formar governo.

Porém, esta certeza está a diminuir ao longo dos dias. A saga começou já no dia de ontem, quando o BE pediu reuniões ao PS, PCP, Livre e PAN para analisar os resultados das eleições que “mudaram a face política do país” e debater convergências “na oposição ao Governo da direita” e na construção de uma alternativa de esquerda.

Através de um vídeo que foi divulgado nas redes sociais do partido, a líder do BE, Mariana Mortágua, considerou que “no atual contexto, devem ser mantidas abertas as portas do diálogo e procurar a máxima convergência na defesa do que é essencial”.

“As eleições de domingo mudaram a face política do país. Os resultados da AD e a subida da extrema-direita colocam Portugal sob o risco de um retrocesso e uma ameaça aos direitos sociais”, referiu Mariana Mortágua.

Esta reunião foi, entretanto aceite quer pelo PS como PCP, sendo que este último diz-se disponível para “toda a convergência”, mas avisa que não pretende “diluir-se em qualquer projeto”.

Também no dia de ontem, depois de se reunir com o Presidente da República, a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, lamentou que este tenha começado a ouvir os partidos políticos quando ainda falta atribuir os quatro deputados eleitos pelos círculos da emigração.

Acrescentou ainda que: “Seja qual for o cenário que possa sair destas reuniões, seja para de facto assumirmos o nosso papel enquanto partido de oposição na Assembleia da República, seja para termos de ir novamente para eleições, o PAN estará preparado para qualquer um desses cenários”.

Esta quarta-feira, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, anunciou que o partido vai apresentar uma moção de rejeição ao programa de Governo da AD, comprometendo-se a ser “a oposição” à política de direita e a combatê-la “desde o primeiro minuto”.

“Não será pelo PCP que o projeto da direita será implementado”, garantiu.

“O facto de nós avançarmos para esta iniciativa é um sinal político que queremos dar, que é para ficar logo claro ao que é que se vai. Da nossa parte, nós não temos nenhuma ilusão sobre qual é o projeto do PSD e do CDS, da direita. Não temos nenhuma ilusão qual é o caminho e as consequências na vida das pessoas, dos trabalhadores e do país”, afirmou.

Já no final da tarde, foi a vez do porta-voz do Livre, Rui Tavares, ser recebido pelo Presidente da República no Palácio de Belém, onde afirmou que no contexto do resultado destas eleições nos encontramos num "momento muito sério na história do nosso país", sublinhando que: "Estamos numa situação de crise política e as eleições não mostraram nada. Temos uma crise política, com elementos de crise de regime".

Sobre o futura governabilidade do país, acrescentou ainda que o partido acredita que "existe uma maneira que faz crescer em votos e a maturidade da nossa democracia" e, por isso, "deve-se procurar o bloco político mais coeso e em termos de respeito pelos processos. É claro e justificado fazer novas audiências, essas sim, as constitucionais, para indigitação de primeiro-ministro, após os resultados finais eleitorais".

"Os portugueses votaram com políticas de aliança bem claras e isso deve ser respeitado", insistiu Rui Tavares. "Temos de perceber se a direita democrática conta com o Chega".

"O Livre considera que todos os democráticos devem falar sobre a democracia, porque considera que existem problemas. É inaceitável num país termos dois sistemas políticos", considerou.

Para o líder do Livre há assim “um critério objetivo factual: um campo da esquerda e da ecologia, que neste momento tem mais votos e mais mandatos; um campo representado pela AD e a IL, e um campo representado pelo Chega à parte”. Rui Tavares insiste ainda que a AD deve esclarecer se acompanharia uma moção de rejeição a esse maior bloco de esquerda.

Rui Tavares afirma ainda que “a indigitação do primeiro-ministro vai depender dos votos contados”.

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