O que falta para os jovens quererem ir para as Forças Armadas?

Meiline Silva
Meiline Silva

Na conferência sobre Defesa Nacional organizada pelo Diário de Notícias, que decorreu hoje na Academia Militar na Amadora, os chefes militares alertaram para as dificuldades de retenção de pessoal nas Forças Armadas.

Foi lá que o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General Cartaxo Alves, afirmou que o ramo que representa nunca teve dificuldades de recrutamento, mas sim no que toca à retenção de pessoal: "O nosso problema é reter as pessoas".

No entanto, o SAPO24 sabe que as Forças Armadas estão a recrutar através do IEFP, o que revela, cada vez mais, uma adoção de novas estratégias de recrutamento. Apesar de se ter registado um aumento nos números de recrutamento em 2024 - a primeira vez que houve uma subida nos últimos oito anos. A pergunta que resta fazer é, quais são as principais razões que contribuem para a falta de atratividade, e consequentemente, para a dificuldade no recrutamento das Forças Armadas?

Apesar de uma das maiores queixas das Forças Armadas ser a falta de atratividade salarial, os números revelam que, na verdade, o salário de um soldado é mais alto do que a componente base de um salário médio nacional - 1,213 euros.

Um recruta das Forças Armadas começa por receber 878,41 euros mensais durante a sua formação, que pode durar vários meses, dependendo da especialidade. Quando terminam a formação, os recrutas passam ao posto de soldado, no Exército e na Força Aérea, e ao de segundo-grumete na Marinha, com um salário base de 926,42 euros, a que se soma o suplemento de condição de militar, no valor de 542,28 euros, num total de 1468,7 euros brutos.

Oportunidades académicas

Cada vez mais existem caminhos alternativos, especialmente no que toca à formação profissional e académica, que não existiam há alguns anos. Com este aumento, muitos jovens preferem investir nos estudos ou em estágios, do que numa carreira nas Forças Armadas.

Valores e prioridades

Uma vez que a carreira militar implica escolhas difíceis, como a deslocação, pode tornar-se num conflito de interesses para quem prioriza a liberdade individual e a flexibilidade.

Além disso, a ligação emocional à defesa nacional está mais distante nas gerações mais novas. Muitos jovens não se identificam com a missão e associam as Forças Armadas a algo que é apenas necessário em tempos de guerra.

Serviço militar obrigatório é a solução?

Atualmente, jovens entre os 18 e os 24 anos podem ingressar nas Forças Armadas através do regime de voluntariado por períodos curtos, geralmente de um ano, ou regime de contrato por seis anos, com possibilidade de transição para os quadros permanentes.

Ultimamente, com a escalada de conflitos e guerras cada vez mais próximas, tem-se falado sobre a possibilidade do regresso do serviço militar obrigatório.

Na Europa, a Estónia, a Letónia e a Lituânia têm o serviço militar obrigatório (para os homens): a primeira nunca o revogou, enquanto as outras duas repúblicas o reintroduziram, perante a ameaça russa iminente.

Por cá, uma das vozes com mais relevância a trazer o tema foi o Almirante Henrique Gouveia e Melo, que entretanto afirmou ter mudado de posição e rejeitou ser a favor do serviço militar obrigatório.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, admitiu que não punha em cima da mesa o regresso do serviço militar, mas sim um sistema de incentivos. Na mesma linha, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, rejeitou o regresso de um Serviço Militar Obrigatório, defendendo a atratividade da carreira militar.

As opiniões variam e é difícil apontar soluções certas que resolvessem o problema de atratividade das Forças Armadas. Em 2024, houve um aumento no recrutamento pela primeira vez em oito anos. No início deste ano, os militares receberam um aumento nos salários. Agora, resta esperar pelos números no recrutamento deste ano e avaliar se os aumentos salariais são, ou não, suficientes.

*Editado por Ana Maria Pimentel

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