“Acho que Portugal, como qualquer outro país membro [da União Europeia – UE], tem de estar consciente de que a tecnologia está lá e a empresa chinesa em questão está muito avançada nesta tecnologia, mas há riscos”, disse em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, a diretora das Relações Internacionais da BusinessEurope, Luísa Santos.
Falando sobre as suspeitas de espionagem que recaem sobre a fabricante chinesa Huawei no desenvolvimento da tecnologia 5G, a responsável portuguesa apontou que “há legislação na China que indica que uma empresa é obrigada, se houver essa decisão por parte do Governo chinês, a fornecer informação que, eventualmente, poderá ser sensível, como dados pessoais”.
Luísa Santos admitiu que, “havendo já presença chinesa que é considerada positiva, isso pode levar a que os governos tenham, necessariamente, uma visão mais positiva sobre o investimento chinês”, como é o caso de Portugal.
Porém, “é preciso que as pessoas tenham consciência de que, neste momento, a China está a utilizar todas as políticas possíveis e imaginárias e todos os meios para se desenvolver”, sendo que “o grande problema é que a China tem um modelo que não é o modelo europeu, que tem grande intervenção do Estado na economia”, reforçou.
Segundo Luísa Santos, tanto os Governos como as empresas europeias devem, por isso, “estar cautelosas e alerta”, não sendo “ingénuas” no que toca ao investimento tecnológico chinês.
A responsável considerou que a solução passa por “prevenir, não bloqueando a China”.
“Não podemos bloquear a China e não é do nosso interesse fazê-lo, mas mesmo permitindo estas trocas comerciais e este investimento com a China, temos de ser muito realistas e perceber que podemos estar a dar vantagens adicionais à China que não podemos controlar porque não é uma economia que funciona nos mesmos moldes que as economias europeias”, adiantou Luísa Santos.
A fabricante chinesa Huawei é acusada de espionagem industrial e outros 12 crimes pelos Estados Unidos, país que chegou a proibir a compra de produtos da marca em agências governamentais e que tem tentado pressionar outros, como Portugal, a excluírem a empresa no desenvolvimento das redes 5G.
Portugal já disse que não o fará e desvalorizou a polémica.
Por seu lado, a Huawei tem rejeitado as suspeitas, insistindo que não tem ‘portas traseiras’ para aceder e controlar qualquer dispositivo sem o conhecimento do utilizador.
No final de março, a Comissão Europeia fez várias recomendações aos Estados-membros sobre as redes 5G e deu-lhes permissão para excluírem dos seus mercados empresas “por razões de segurança nacional”.
Entretanto, na semana passada, o Reino Unido informou que iria permitir a Huawei no seu mercado.
A BusinessEurope representa empresas de 35 países da Europa (UE e outros), abrangendo em Portugal a Confederação Empresarial de Portugal (CIP).
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