Bem-vindos à loja do futuro, é o que muitos dizem. A 22 de janeiro, em Seattle, perto do campus da Amazon, abriu ao público em geral a primeira Amazon Go, equipada com tecnologias que permitem comprar de forma tão simples como na plataforma digital. Uma loja que já existia desde 2016, mas que apenas estava aberta aos funcionários da empresa.
Neste espaço — um mini-mercado, ou loja de conveniência —, os clientes não usam dinheiro. Apenas precisam de ter na sua mão um smartphone, com a aplicação da Amazon Go que é iniciada nos pórticos de entrada — semelhantes à entrada no Metro. De seguida, apenas têm de procurar os produtos que pretendem adquirir, não tendo de passar pela caixa para pagamento. Apesar disso, não se pense que não existem trabalhadores na loja: existem e dão as boas-vindas a quem chega, repõem os produtos e ajudam caso exista alguma dúvida.
Com este método diz-se adeus às filas intermináveis para pagamento. Saiu da loja com a sensação de ter roubado os produtos? Não há motivo para preocupação: pouco depois de lá sair já pagou tudo, só não deu conta disso.
Para tal, existem câmaras com sensores montadas no teto e nas prateleiras da loja. Os computadores aprendem a ver, munidos de inteligência artificial, e registam tudo aquilo que sai das prateleiras para o saco de cada cliente. Não há fugas possíveis: a fatura vai chegar até si.
Contudo, o caráter inovador desta loja não evitou as filas no dia de abertura. Os clientes não tiveram de esperar para pagar, mas sim para entrar no espaço.
Para muitos, o conceito deixa margem para dúvidas. E, apesar da curiosidade, os consumidores apresentaram-se algo céticos. Segundo uma sondagem de 2016, os clientes, apesar de confiarem na tecnologia da Amazon e de quererem testá-la (42%), não querem pagar mais pela experiência em si (66%) e não acreditam que a Amazon vá resolver mais problemas aos clientes do que aqueles que possa vir a criar (40%).
O jornalista do The New York Times que tentou “roubar” um produto
Nick Wingfield, jornalista do The New York Times, tirou as teimas quanto à possibilidade de roubar produtos desta loja, uma vez que o registo das compras é acionado quando se vê o produto sair das prateleiras, através das câmaras e sensores espalhados pela loja. E, se o produto voltar a ser colocado lá, deixa de estar na sua conta.
Com a devida autorização da Amazon, Wingfield tentou enganar as câmaras: embrulhou um sumo de baunilha num saco de compras, ainda na prateleira, e depois colocou-o simplesmente debaixo do braço e saiu da loja. Não conseguiu roubar nada — quando consultou a aplicação, lá estava a sua “compra” de 4,35 dólares, apesar de as câmaras não terem visto o produto que saiu da prateleira.
E a jornalista da CNBC que saiu sem um produto registado
As histórias não ficam por aqui. Deirdre Bosa, jornalista da CNBC, também esteve na Amazon Go, para testar a nova tecnologia. As compras correram como planeado: pegou nos produtos que quis e saiu. Ao contrário de Wingfield, não tentou "roubar" nada, mas acabou por fazê-lo.
Quando verificou a fatura, a jornalista apercebeu-se que um iogurte não havia sido listado, tendo avisado imediatamente a Amazon Go. Gianna Puerini, vice-presidente, descansou-a: "Em primeiro lugar, aproveite o iogurte", disse. "Isto acontece tão raramente que nem nos preocupámos em construir uma forma de os clientes reportarem o sucedido. Por isso, obrigada por ter sido honesta e nos ter contado".
A vice-presidente da Amazon Go frisou também o facto de, no espaço de um ano, não serem registados episódios deste tipo, pelo que não é esperado que se repitam em grande escala.
Até ao momento ainda não se sabe se vão abrir mais lojas deste tipo ou se a Amazon vai mesmo vender o método de retalho para outras empresas, mas fica a certeza que qualquer de novo está a surgir na forma como fazemos as nossas compras. Por saber é se, avaliadas vantagens e desvantagens, se confirma que esta solução cria mais problemas do que aqueles que resolve.
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