Numa apresentação à imprensa deste novo órgão, Guterres indicou que trabalhará de forma independente e “rápida”, porque o mundo está em “contra relógio”.

O grupo de trabalho fará recomendações preliminares em três áreas até ao final deste ano: a governação internacional da IA; uma compreensão partilhada dos riscos e desafios; e as principais oportunidades e facilitadores para aproveitar a IA em prol da aceleração e concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

As recomendações deste órgão consultivo irão posteriormente contribuir para os preparativos da Cimeira do Futuro, em setembro do próximo ano, e especificamente para as negociações em torno da proposta do Pacto Digital Global.

“Este órgão consultivo de alto nível é equilibrado em termos de género, geograficamente diversificado e abrange gerações. Os membros têm profunda experiência em governação, empresas, comunidade tecnológica, sociedade civil e na academia. Eles trazem uma ampla gama de perspetivas para a tarefa”, disse Guterres na sede da ONU, em Nova Iorque.

“Estou grato e satisfeito por este notável grupo ter concordado em colocar o seu conhecimento e experiência ao serviço das Nações Unidas”, acrescentou, salientando que esses membros “servirão a título pessoal” e pedindo-lhes que realizem “consultas amplas, extensas e transparentes” para ouvir as opiniões de todas as partes interessadas.

De acordo com uma lista disponibilizada pelas Nações Unidas, este órgão é composto por 39 membros, de países como Portugal, Países Baixos, Rússia, China, Albânia, Espanha, Brasil, Israel, Arábia Saudita, Etiópia, Paquistão, Estados Unidos, entre outros.

Portugal estará representado por Virgínia Dignum, professora de Inteligência Artificial Responsável na Universidade de Umeå, na Suécia.

Guterres lançou ainda um olhar sobre os avanços da AI, refletindo que no último ano assistiu-se a um progresso através de ‘chatbots’, clonagem de voz, geradores de imagens, aplicações de vídeo, entre outros, salientando existir “incríveis possibilidades”, mas também “potenciais perigos”.

“Nos nossos tempos difíceis, a IA pode impulsionar um progresso extraordinário para a humanidade. Desde a previsão e resposta a crises, até à implementação de programas de saúde pública e serviços educativos, a IA poderia ampliar o trabalho dos Governos, da sociedade civil e das Nações Unidas em todos os níveis”, defendeu.

O ex-primeiro-ministro português apontou que para as economias em desenvolvimento, a IA oferece a possibilidade de ultrapassar tecnologias obsoletas e levar serviços diretamente às pessoas que mais precisam.

A IA poderá também impulsionar a ação climática e os esforços para alcançar os 17 ODS até 2030, defendeu.

“O potencial transformador da IA para o bem é até difícil de compreender. E necessitamos urgentemente deste facilitador e acelerador. (…) Mas tudo isto depende das tecnologias de IA serem aproveitadas de forma responsável e tornadas acessíveis a todos — incluindo os países em desenvolvimento que mais precisam delas”, advogou.

Entre os potenciais danos da IA, o secretário-geral identificou a desinformação, a consolidação do preconceito e da discriminação, a vigilância e invasão de privacidade, assim como fraude e outras violações dos direitos humanos.

“Sem entrar numa série de cenários apocalípticos, já é claro que a utilização maliciosa da IA poderá minar a confiança nas instituições, enfraquecer a coesão social e ameaçar a própria democracia”, afirmou, salientando que o seu novo órgão consultivo pretende avaliar todas essas possibilidades.

A primeira reunião do órgão terá lugar na sexta-feira.