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Tradicionalmente, escrever código significava redigir manualmente programas em linguagens como Python, C++ ou semelhantes. Hoje, a IA generativa e grandes ferramentas como o ChatGPT, Claude, Grok, Llama ou Gemini já conseguem criar código por nós.
Tal como se introduz um prompt para pedir uma história ou uma resposta, agora podemos pedir que a IA escreva programas completos. Um script em Python, por exemplo, pode ser gerado em segundos ou minutos, em vez das horas ou dias que levaria a criá-lo manualmente.
À primeira vista, isto parece uma ameaça para os programadores. Um utilizador sem conhecimentos técnicos pode simplesmente escrever um pedido em linguagem natural, pedir à IA que crie um programa e… voilà: o código surge pronto a executar. Mas há um problema: o código gerado por IA ainda não é totalmente fiável.
Para resolver este problema, surge uma nova profissão: o especialista em limpeza de vibe coding. Mas será que esta função vai perdurar? Faz sentido? E quem estaria disposto a aceitá-la?
“O código gerado por IA (ainda) não é fiável”
A inteligência artificial ainda não é completamente competente a gerar código funcional e seguro. É comum que surjam erros, bugs ou até código malicioso, caso o modelo tenha sido comprometido. Ainda esta semana, o ex-CEO do Google, alertou que os modelos de IA podem ser corrompidos.
“Há provas de que se podem manipular modelos, fechados ou abertos, e hackeá-los para remover as suas barreiras de segurança. Assim, durante o treino, eles aprendem muitas coisas. Um mau exemplo seria aprenderem a matar alguém”, explica Eric Schmidt.
Neste contexto, os engenheiros de software podem respirar de alívio por mais um tempo, as suas competências ainda são valiosas. Mas, com o avanço rápido da IA, esta vantagem poderá ser temporária.
A ressaca do vibe coding
Quem trabalha há anos na computação sabe que sempre houve tentativas de permitir que utilizadores finais criassem os seus próprios programas. Normalmente, essas iniciativas acabavam em desilusões.
Com o fenómeno do vibe coding, programar através de prompts e IA tornou-se real e veio com a promessa de que “desta vez era diferente”. Mas, passados alguns meses da sua aplicação, percebe-se agora que, afinal, mesmo com ferramentas avançadas, o código gerado continua a apresentar problemas que precisam de ser resolvidos. Usar código defeituoso ou potencialmente perigoso é arriscado, mas quem deve tratá-lo?
Uma ideia natural seria pedir ao próprio utilizador, o “vibe coder”, para corrigir o código. Mas, na maioria dos casos, este utilizador não entende de programação. É como alguém que sabe guiar, mas não faz ideia do que se passa debaixo do capot.
Outra possibilidade seria pedir à IA para limpar o próprio código, repetindo o processo até funcionar. Por vezes resulta, mas raramente é suficiente. Em códigos complexos, as correções automáticas são limitadas e podem até introduzir novos problemas.
A solução passa então por especialistas humanos em limpeza de vibe coding, uma nova profissão emergente. Estes profissionais conhecem a forma como a IA gera código, são programadores experientes e têm historial em manutenção e refatoração de software. Analisam o código, executam testes, corrigem erros, eliminam vulnerabilidades e transformam o programa num produto funcional e seguro.
Por enquanto, este trabalho é realizado pontualmente ou em regime freelance, mas já começam a surgir empresas e equipas dedicadas exclusivamente a esta função. O utilizador pode escolher entre uma limpeza rápida e barata ou uma revisão completa e minuciosa.
Os “bombeiros digitais” ou “babysitter de IA”
“O que a IA gera é um rascunho útil para prototipagem, mas longe de estar pronto para produção”, explica Lance Eliot, na Forbes.
O especialista em IA revela que as empresas e os investidores recorrem a estes técnicos antes do lançamento para evitar surpresas desagradáveis. A IA produz o esqueleto; os engenheiros seniores garantem segurança e qualidade.
O “vibe coding cleanup specialist”, muitas vezes descrito como “AI babysitter”, é um profissional que entra em ação depois de o código ser gerado pela IA, com a missão de salvar o projeto. Corrigem bugs, fecham brechas de segurança, reestruturam a arquitetura e adicionam testes e documentação ao software.
Estas são as suas principais tarefas:
- Rever e reestruturar o código para torná-lo legível e sustentável;
- Adicionar testes automáticos e monitorização;
- Otimizar desempenho e escalabilidade;
- Documentar todo o sistema para manutenção futura.
Um mercado em crescimento… por agora
A procura por serviços de limpeza de código está a crescer, com freelancers e empresas a oferecer desde limpezas rápidas até auditorias completas. No curto prazo, é uma oportunidade rentável: para startups, limpar código custa menos do que desenvolver software do zero; para programadores, representa uma nova fonte de rendimento.
Os vibe coding cleanup specialists demonstram que os humanos continuam indispensáveis. A combinação entre máquinas que escrevem e pessoas que supervisionam pode tornar-se o modelo dominante do desenvolvimento de software.
Para os programadores dispostos a enfrentar desafios, este trabalho é uma oportunidade temporária, mas de alto impacto, garantindo que a velocidade da IA não comprometa a fiabilidade e segurança do software.
Uma profissão com futuro?
Contudo, há quem acredite que a função de limpeza de código gerado por IA terá vida curta. À medida que a IA evoluir, deverá ser capaz de criar ou corrigir código de forma mais eficaz, tornando esta função interina potencialmente obsoleta.
“Mais tarde, praticamente todos terão esquecido aquele momento peculiar em que os humanos eram chamados para limpar código gerado por IA. Será apenas uma memória curiosa. (…) Será que vai haver dinheiro suficiente para lucrar com a onda do vibe coding cleanup sem se preocupar com o futuro? Talvez seja uma daquelas oportunidades raras e inesperadas que justificam o provérbio “quem não arrisca, não petisca”. Outro ditado clássico que vem à mente é: “quem não se aventura, não conquista”, conclui Lance Eliot, cientista de computação na Forbes.
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