O sistema funciona com um dispositivo portátil que pode ser acoplado ao telemóvel e que emite desde sabores vaporizados, cheiros, vibrações e até sensações térmicas, explicou à Lusa João Duarte, do Instituto Superior de Engenharia da UAlg e responsável pelo desenvolvimento do dispositivo.
Além de permitir ouvir a narrativa da obra (audição) e ver pormenores da mesma aumentados (visão), o sistema, através deste aparelho, reproduz sensações de vibração, como nos comandos das consolas de jogos, e de brisa, através de uma ventoinha (tato), o cheiro a flores e amêndoas (olfato) e ainda o sabor a frutos vermelhos e café (paladar).
No caso do paladar, o sistema funciona à semelhança dos vaporizadores eletrónicos, mas com líquidos próprios usados pela indústria alimentar, que são expelidos através de tubos individuais e higienizados, referiu João Duarte, de 29 anos, que fez um mestrado em Engenharia Elétrica e Eletrónica.
O sistema, que demorou quase três anos a ser desenvolvido, foi testado no Museu Municipal de Faro, encontrando-se disponível em 84 peças, algumas das quais estão em exibição na sala conhecida como "sala das lendas", que reúne pinturas de Carlos Porfírio alusivas a nove lendas do imaginário popular algarvio compiladas por Ataíde de Oliveira.
O professor João Rodrigues, coordenador do projeto, contou à Lusa que a grande novidade é conseguir, apontando o telemóvel em direção às obras, conhecer não só a sua narrativa, como "ter as sensações que o autor pretendia transmitir", o que exigiu a integração na equipa de peritos em arte.
Contudo, sublinha, o objetivo é "aumentar o prazer de estar no museu, o conhecimento, mas nunca estragar a experiência de estar num museu", pelo que foi também criado um dispositivo para por nos ouvidos em que a pessoa consegue ouvir o ambiente do museu e ao mesmo tempo ouvir o que está a passar na aplicação.
"Não queremos que a pessoa passe o tempo a olhar para um ecrã, queremos que esteja a usufruir do museu e que isto seja uma mais valia para que possa aceder a mais informação", frisou, acrescentando que outra das funcionalidades da aplicação é a localização das pessoas que estejam a visitar o museu em grupo, o que é útil sobretudo quando se levam crianças.
João Pereira, que desenvolveu o "software" da aplicação M5SAR – Mobile Five Senses Augmented Reality System for Museums (Sistema Portátil de Realidade Aumentada com os Cinco Sentidos para Museus), contou à Lusa que uma das principais dificuldades foi conseguir fazer a identificação dos quadros em tempo real.
Segundo o investigador da UAlg, de 23 anos e também com um mestrado em Engenharia Elétrica e Eletrónica, a tecnologia existente baseava-se muito "no lado do servidor" e a equipa queria desenvolver uma aplicação do lado do cliente, "para evitar sobrecargas" nos servidores.
Paulo Bica, da empresa SPIC – Digital Studio, com sede em Loulé, que colaborou no desenvolvimento do projeto, realçou que esta solução não está apenas direcionada para a museologia, tendo potencial para ser usada em eventos e congressos, vertentes que a equipa quer explorar no futuro.
"Cada vez mais, a experiência do visitante num museu tende a ser mais interativa, mais digital, que não seja apenas uma visita estática, tradicional, de leitura de obra", referiu, acrescentando que esta tecnologia permite que a experiência seja mais "envolvente e enriquecedora".
Segundo Paulo Bica, o produto já está totalmente funcional e pronto a ser demonstrado, apesar de poderem existir ainda algumas melhorias, sendo a próxima fase o seu lançamento no mercado.
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