Luísa Barreira, especialista em Biotecnologia Marinha, contou à Lusa que já foi possível isolar mais de uma centena de espécies diferentes de microalgas, um processo complexo que tem vindo a ser feito nos laboratórios do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da UAlg.

De acordo com Luísa Barreira, trata-se de seres vivos que são abundantes no meio marinho, podendo sobreviver em água doce ou salgada, e extremamente pequenos, apenas visíveis ao microscópio, com um tamanho máximo que rondará os 0,02 milímetros de diâmetro, mas muito robustos e que podem ser cultivados à escala industrial.

A tetraselmis, que neste caso foi colhida na Ria Formosa, além da alimentação humana, pode também ser usada na produção de rações para peixes, biocombustíveis e até para tratar esgotos, refere a cientista, sublinhando que "as aplicações biotecnológicas são imensas".

A investigadora refere que já há alguns anos que o grupo de investigadores faz bioprospeção para microalgas marinhas que pudessem ser aplicadas à produção de biocombustíveis, pela abundância de lípidos, o que as torna convertíveis em biodiesel. São também fonte de proteínas.

Neste momento, acrescenta, em conjunto com o seu parceiro industrial, a cimenteira Secil, o grupo está a procurar novos mercados e formas de aplicação, não só o biodiesel, "que acaba por ser um produto barato e acaba por valorizar pouco esta microalga".

Em Portugal existe desde 2016 uma unidade de produção de microalgas, a Algarfarm, localizada no parque empresarial da Secil, em Alcobaça, no distrito de Leiria. A unidade foi desenvolvida para mitigar o dióxido de carbono (CO2) decorrente da produção de cimento.

No entanto, a investigadora acredita que até o produto poder ser comercializado para a alimentação humana ainda vai ser preciso algum tempo, uma vez que ainda terá que passar por um processo de aprovação pela União Europeia para poder integrar a lista de novos alimentos ("novel food").

"As microalgas não são consideradas ainda um alimento tradicional e esta microalga para poder realmente ser comercializada para a alimentação humana, precisa de passar por um processo de aprovação na UE, o que ainda demiora algum tempo", considera.

São considerados novos alimentos aqueles que não eram consumidos de forma significativa na União Europeia (UE) antes de 15 de maio de 1997, quando o primeiro regulamento sobre novos alimentos entrou em vigor.

Ao abrigo de uma parceria com o CCMAR, o 'chef' de cozinha algarvio Leonel Pereira está a testar o uso de tetraselmis no seu restaurante em Almancil.

A tetraselmis é uma microalga cosmopolita, uma espécie que existe praticamente por todo o mundo, e que pode sobreviver tanto em água doce ou água salgada.