Tudo começou com um sonho. João Neves, ao frequentar a licenciatura em Música Eletrónica e Produção Musical, quis terminar o percurso de estudos com um projeto diferente. Era algo bastante pessoal: queria construir a sua própria guitarra.

Mas não ficou por aí. “Com o avançar da minha licenciatura, o sonho de construir a minha guitarra passou a ser o de construir uma guitarra com algo mais. Tinha de ser algo que me permitisse interagir com efeitos sonoros de uma forma criativa”, começa por dizer João.

Foi assim que nasceu a Sensi Guitar, que rapidamente passou do meio académico para o mundo dos negócios. “Como estava em contacto com muitos músicos e ia pedindo opiniões, percebi que havia uma oportunidade de negócio com a guitarra e com aquilo que estava a fazer. Na altura comecei a perceber que havia muitos músicos que tinham muitas necessidades específicas para a maneira como queriam fazer música e essas necessidades não eram respondidas pela oferta do mercado. Então comecei a pensar em construir um negócio. Nem sabia o que era uma startup ou um empreendedor! Queria apenas dar aquilo que fiz a outros músicos”, refere.

E foi precisamente para mostrar o que fazia que concorreu a vários concursos — como o Lisbon Maker Faire ou o Prémio Nacional das Indústrias Criativas —, sem nunca pensar nos prémios: só queria ser notado. Ao início, a ideia era “oferecer sistemas personalizados a cada músico”, mas depressa de apercebeu que isso “era de malucos”.

“Primeiro imaginava o produto a responder às necessidades de cada um, mas por muito que um músico me dissesse que queria a guitarra da maneira X ou Y, possivelmente quando fosse entregar ele ia ficar naquela do ‘mas eu gostava disto mais ao lado, mais em cima, mais em baixo’ e percebi que não era viável”.

O mais importante era, então, perceber como chegar a um produto “que fosse possível massificar e que ao mesmo tempo conseguisse ser adaptado a cada músico, ou seja, que tivesse o melhor de dois mundos”, explica o fundador da Sensi Systems.

E João conseguiu. Depois de muito tocar na sua Sensi Guitar, chegou a ideia do Sensi M, um produto modelar que pode ser aplicado a qualquer instrumento e permite “que cada músico consiga escolher que tipo de interfaces quer ter, definindo o tipo de interação que quer ter com os efeitos, podendo utilizá-los de forma expressiva”.

Contudo, as utilizações não ficam por aqui. “O músico pode também comunicar com outros instrumentos a partir do instrumento que está a tocar. Imaginando, numa banda com três elementos, um guitarrista com o Sensi M pode interagir remotamente com o som da bateria ou do vocalista, ou pode interagir com o próprio som que está a criar na guitarra de uma forma expressiva”.

E é precisamente nesta versatilidade que assentou o nome, aparentemente simples mas com muitas voltas. “Eu tenho uma tendência pessoal de tentar dar sempre muito significado às coisas. É uma coisa um bocadinho conceptual, deve ser do meu lado de músico. Sensi M porque M vem de modelar, M vem de música, M vem de moléculas. No fundo, o Sensi M é uma molécula que é constituída por átomos. Se virarmos o M de lado temos um E, que pode ser usado para expressividade; é toda a proposta de valor que nós temos. Se viramos ao contrário ainda se torna num W, que é a inicial de wireless”, diz.

Este produto, que foi uma forma de simplificar a guitarra que se tornava difícil de transportar, cabe agora no bolso de qualquer músico e pode ser o elemento chave para a mudança. E com uma vantagem: o mesmo Sensi M pode ser utilizado em vários instrumentos. “Imaginando que temos uma banda com um guitarrista, um baixista e um baterista, podemos usar [o Sensi M] na música X na minha guitarra e a seguir dar exatamente o mesmo interface ao baixista e ele usar noutra música e aplicá-lo numa posição diferente e por aí fora, sem danificar o instrumento”, clarifica João.

O Sensi M, apresentado hoje, 22 de maio, vai ser lançado no mercado através de uma campanha de *crowdfunding*. Enquanto isso, os sonhos de João não param. “Quero ver este produto a ser usado num grande palco e por grandes músicos”, diz sem hesitar. Mas, mais do que isso, também quer continuar a aprender. Porque este é um produto que nunca vai estar terminado. “Queremos que este produto seja um sucesso e que muita gente nos possa ensinar o que podemos fazer com isto. Estamos a deixá-lo versátil o suficiente para muita gente nos ensinar como é que o podemos usar”, conclui.


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