Aldric Négrier é engenheiro de telecomunicações. Um dia, quando estava no seu escritório, tudo mudou. Ou tudo girou. “Estava numa cadeira rotativa. Coloquei uma música de meditação e sem querer — foi um acidente, na verdade — rodei a cadeira. Tinha os olhos fechados e foi uma experiência muito diferente. O som vinha de frente, o meu corpo rodou para a esquerda, rodou em torno de si próprio e com os olhos fechados cria-se uma sensação especial. A partir daí fiquei fascinado e criei um protótipo, uma plataforma rotativa de meditação”, conta.

Contudo, esta ideia era “um bocado cara para os consumidores finais”. Mas tinha de ser feita alguma coisa. Surgiu então o ZenVow, que consiste em dois produtos: um sensor e uma plataforma de meditação — que não roda para já, mas tem luzes.

E para que servem? Como se usam? “Em termos práticos vamos ter à venda um sensor que se coloca ao peito ou na barriga, embora seja completamente indiferente no que diz respeito à funcionalidade. Este sensor deteta a postura da pessoa — se está sentada, deitada, de pé, inclinada, de lado — e, numa primeira fase, deteta, ao inspirar e ao expirar, a extensão do tórax. Esta é a primeira diferença: a maior parte dos sensores mede o ritmo cardíaco, mas quase nenhum mede o esforço respiratório”, começa por explicar.

“Esses dados são depois usados para monitorizar tanto a atividade de respiração como uma sessão de ioga. Há também a plataforma de meditação, que serve para as pessoas se sentarem em cima dela, e faz terapia de cores interativa. É muito difícil eu chegar do trabalho e, com o stress e as preocupações, sentar-me e conseguir meditar. A terapia de cores funciona como uma pequena distração que possibilita depois a meditação. É um ambiente meio mágico, em que a pessoa mais facilmente entra num estado de meditação. Basicamente, a pessoa inspira e aparece luz; expira e a luz apaga. É literalmente o que dizem no ioga: inspirar a luz e expirar a escuridão”.

Mas não é só uma questão de fazer exercício — com este projeto pode ganhar dinheiro. “O que é revolucionário no nosso projeto ZenVow é a possibilidade de as pessoas conseguirem receber retorno financeiro em moedas virtuais por praticarem meditação, ioga e exercícios de respiração, seguindo os exercícios propostos na aplicação para smartphone. Se a sessão for validada as pessoas depois vão receber umas moedas virtuais no telemóvel e podem trocá-las por outras moedas virtuais. Podem trocar por bitcoins, por euros, por dólares, seja o que for”. E o seu investimento é mínimo. Por cerca de 99€ tem o sensor e a plataforma: a partir daí é “sempre a ganhar”.

Para tal é utilizada a tecnologia de Blockchain. “A blockchain é uma tecnologia de software que está por trás da tecnologia de bitcoin, que garante toda a segurança destas moedas. Nós vamos criar 333 milhões de moedas virtuais, as ZenVow Coins. Bitcoins só existem 21 milhões”, esclarece. “A tecnologia de moedas virtuais permite a criação de valor em atividades, produtos ou serviços que anteriormente não existiam e desta maneira conseguem distribuir riqueza de uma maneira um bocadinho mais justa e cria novas oportunidades”.

No entanto, estas moedas não são consensuais, já que não são garantidas por um banco central ou autoridade nacional, não são moeda com curso legal, não estão cobertas por nenhum ativo tangível e não são reguladas a nível europeu, pelo que podem apresentar, nesta fase, alguns riscos para o consumidor.

Mesmo assim, não pense que pode “aldrabar” os sensores ZenVow. Vai ter mesmo de fazer os exercícios se quiser ganhar alguma coisa. “Para evitar que as pessoas abusem do nosso sistema, identificamos a assinatura biológica da pessoa. Todas as pessoas são diferentes, todas têm ritmos respiratórios diferentes e o que fazemos é estudar essa assinatura única com inteligência artificial e depois, se por acaso a pessoa tentar fazer batota, essa assinatura vai ser diferente e vai haver aí um conflito e essa sessão falsificada é anulada e as pessoas não recebem as moedas virtuais”.

Contudo, a ideia de Aldric não fica por aqui. Numa segunda fase — se conseguir financiamento para os produtos —, quer construir resorts de meditação. “A ideia, é construir resorts pelo mundo todo, mas começamos com um no Algarve. A ideia é tentar criar um espaço onde as pessoas podem praticar os exercícios, mas com uma particularidade: dentro do resort paga-se a estadia fazendo exercícios de ioga, meditação e respiração. Lá dentro recebem 10 vezes mais. O sistema conhece as coordenadas geográficas do resort e sabe que as pessoas estão ali”, explica.

No final do dia, o ZenVow tem um objetivo bem definido, depois de um olhar atento para o mundo. “A maior parte da atividade humana no planeta é motivada pelo sistema financeiro. Basicamente as pessoas fazem o que fazem porque têm de ganhar dinheiro para sobreviver. Infelizmente isto está a causar problemas de saúde aos humanos e também ao planeta. Estatísticas recentes mostram que existem cerca de 3,2 mil milhões de trabalhadores no mundo e boa parte está pouco satisfeita com o trabalho que faz, ou muito insatisfeita. Com o tempo, essa insatisfação cria problemas de stress e ansiedade. Cria problemas de saúde para elas e o trabalho que desenvolvem também cria problemas ecológicos para o planeta. A atividade humana no planeta cria problemas de saúde às pessoas e cria também problemas de saúde ao próprio planeta. O ZenVow pretende criar uma alternativa ao sistema de trabalho. Eventualmente, se tudo correr bem, podem fazer até mais dinheiro assim do que a trabalhar”, remata Aldric.

Nota: Artigo com edição no título e lead às 19h24m


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