A estreia já foi no próprio 25 de Abril, numa sessão esgotada no Teatro Constantino Nery, em Matosinhos, entretanto o grupo já passou por várias salas e chega agora ao Teatro Sá da Bandeira, em Santarém, este sábado, dia 28 de setembro.

Escrita em 1979, a obra retrata aquela que foi “a mais bela madrugada” vivida na redação de um jornal diário de Lisboa.

A ação da peça acontece quando a edição do jornal daquele dia 25 está fechada, a primeira página é obra do diretor, o ambiente é de alguma crispação, há ali jornalistas que ousam pensar. A revolução entra pela redação trazida pelos “ilustres tipógrafos”, vozes que o senhor diretor, fascista, como convinha, tenta calar com a desculpa de que “é preciso salvar o jornal”.

No palco, está lá tudo: as máquinas de escrever, o velho transístor, o tabaco espalhado, muitas folhas, o telex, a 'menina' da agenda, que anda enrolada com o sabujo do chefe de redação, a jornalista idealista, o Torres - o revolucionário, as saias abaixo do joelho, os cabelos presos, os pulôveres aos quadrados, o colete reluzente do senhor diretor e, claro, o senhor engenheiro, o homem do dinheiro.

A Noite de José Saramago, pelo Grupo de Teatro de Jornalistas do Norte
A Noite de José Saramago, pelo Grupo de Teatro de Jornalistas do Norte A Noite de José Saramago, pelo Grupo de Teatro de Jornalistas do Norte créditos: DR

Pelo palco circula a Sara Mago. É ela que apresenta a peça, que fala para o público, “uma cronista de um outro movimento” que há em palco, do jornalismo de hoje.

A ação corre, mas a cena é invadida pelo Torres, esbaforido, que manda parar a peça. Já não é o Torres que fala, é Camilo, jornalista do Público.

No palco, já não é 1974. O ano de 2024 regressou e corre na rua um boato: “O jornalismo morreu”, anuncia Camilo, descrevendo que há colegas a desaparecer, a cair para o lado, outros a soro e ninguém sabe nada.

O silêncio dura pouco e os atores voltam a si, são novamente jornalistas e falam de algo que não sabem o que é, afinal: “O Marques Mendes não anunciou nada, não houve comunicados, nem chegaram mensagens de WhatsApp”, ouve-se. É preciso saber o que se passa.

“O que diz a Lusa? E o Expresso? A fonte de Belém ainda não disse nada? E a Entidade Reguladora da Comunicação, será que é desta que diz alguma coisa? O Correio da Manhã fala em ‘jornalistas zombies’”.

Nesta versão de 'A Noite', o grupo de 14 jornalistas de vários meios quer fazer sobretudo um grito de liberdade.

Esta adaptação da primeira peça de teatro escrita por José Saramago, único Nobel da Literatura da língua portuguesa, pretende recriar as vivências da noite do 25 de Abril dentro da redação de um jornal da capital lisboeta. Resultou de um desafio do Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery para retratar o ambiente numa redação de um jornal, na madrugada do 25 de Abril, que aqui é interpretada só por jornalistas. O texto acaba por ser uma oportunidade de refletir — em carne e osso — sobre o futuro do jornalismo.

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A dramaturgia está a cargo de Simão Freitas e João Gaspar, a encenação Jorge Louraço Figueira e Leonor Wellenkamp Carretas. Em palco estão Aline Flor, André Borges Vieira, Camilo Soldado, Catarina Ferreira, Dora Mota, Francisco D. Ferreira, João Gaspar, João Nápoles, Joana Ascensão, Jorge Eusébio, Luísa Marinho, Maria João Monteiro, Pedro Emanuel Santos e Simão Freitas.

Os bilhetes para este sábado ainda estão à venda e podem ser adquiridos aqui. Custam cinco euros e ainda existem vários lugares disponíveis.

O grupo segue depois para Leiria, no dia 4 de outubro, no Teatro José Lúcio da Silva. Os bilhetes podem ser adquiridos aqui e custam cerca de 10 euros. Esta é a última data anunciada até agora.

*Com Lusa