Os termos e condições para assistir ao concerto tornaram-se públicos no momento em que os bilhetes começaram a ser vendidos: homens e mulheres deverão estar em zonas separadas, é proibido dançar e até balançar.

O concerto de Tamer Hosny, marcado para 30 de março em Jeddah, será certamente um dos mais parados de sempre.

Além disso, é proibido fumar no local e os espetadores devem usar roupas modestas.

“É como colocar neve debaixo do sol e pedir que não derreta”, escreveu um utilizador do Twitter. Outros, recorreram a vídeos para comentar o tema.

Há ainda quem tente prever o que irá acontecer se as autoridades apanharem alguém a balançar indevidamente.

As regras foram recebidas com críticas e ironia, mas são o reflexo de um movimento de modernização, protagonizado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman (MBS), numa sociedade profundamente conservadora.

O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, de 32 anos, arrebatou o poder de facto, trazendo um dinamismo raramente visto num reino que tem sido governado por septuagenários e octogenários. Filho favorito do rei Salman, o príncipe controla quase todas as áreas – defesa, economia, segurança interna, reformas sociais e política externa – do país.

Desde que o seu pai se tornou rei, em 2015, MBS rapidamente começou a ganhar importância. Sem vice, é o único herdeiro previsível à coroa e aos seus poderes absolutos. A caminhada de MBS para o poder tem sido caracterizada por controvérsia e conflitos, erros e triunfos.

No que respeita à reforma do reino, o fim da proibição de condução pelas mulheres representou o maior avanço nos direitos das mulheres em anos e foi elogiada por grupos de defesa de direitos cívicos e líderes mundiais.

A decisão pertence ao plano mais geral de MBS para transformar o reino. O seu plano – Visão 2030 – pretende reformar a economia saudita e aliviar as restrições sociais para manter a estabilidade perante a descida dos preços baixos, medidas de austeridade e uma população jovem em crescendo.

MBS também é responsável pela criação de uma autoridade de espetáculos, que já organizou concertos musicais, que estavam banidos há cerca de duas décadas, visualizações de filmes, apesar de não existirem salas de cinemas no reino, ‘shows’ de camiões pesados e até um festival de comédia. Outra reforma anunciada foi a autorização concedida às raparigas para praticarem desporto nas escolas públicas.

Porém, ao mesmo tempo, MBS também fomentou a repressão de vozes dissidentes e críticas de algumas das suas políticas mais controversas, como a guerra no Iémen ou o confronto com o Qatar. Na frente externa, MBS conseguiu um sucesso político relevante ao ter sido o primeiro líder árabe a reunir-se com Donald Trump depois da vitória eleitoral deste.

Enquanto ministro da Defesa, MBS dirige a guerra no Iémen, que já provocou mais de 9.200 mortos e mais de 50 mil feridos no país árabe mais pobre, empurrou o Iémen para uma situação de fome e desencadeou um surto de cólera recorde.

A guerra no Iémen opõe as forças governamentais aos rebeldes Huthi, apoiados pelo Irão, que em 2014 conquistaram vastos territórios, incluindo a capital Sanaa.

Em março de 2015, uma coligação dirigida pela Arábia Saudita desencadeou uma intervenção militar no país em apoio às forças governamentais iemenitas e ao seu Presidente Abdo Rabbo Mansur Hadi, refugiado em Riade.