No ano passado, despedimo-nos de séries como “Succession” e “Barry” e ficámos com uma sensação agridoce. 2024 começou com muitas expectativas (o regresso de “The Bear”), mas trouxe também algumas desilusões (“The Regime” e “Echo” vêm logo à memória). Ainda assim, é justo admitir que, entre as dificuldades, emergiram verdadeiras pérolas — histórias que nos fizeram rir, refletir e acreditar novamente na força da televisão.
A lista que se segue é um retrato do melhor que 2024 nos ofereceu: novos sucessos, regressos triunfantes e minisséries inesquecíveis que, mesmo num contexto adverso, nos relembraram por que motivo adoramos boas histórias.
Agora, prepara-te para descobrir quem ocupa os lugares cimeiros e, claro, qual é a grande série do ano. Vamos a isso?
#5 - "Amiga Genial" (T4)
“Amiga Genial” pode não ter alcançado a popularidade de outras séries — muitas delas presentes em listas de melhores do ano —, mas a verdade é que a sua quarta e última temporada é uma das melhores conclusões não só deste ano, mas de qualquer adaptação literária. É importante sublinhar: a relação entre Elena e Lila nunca se resumiu à visão simplista de uma “amizade feminina”. A série trouxe-nos um retrato incisivo, cru e profundamente real de uma ligação simultaneamente simbiótica e competitiva, marcada por fascínio e dependência. Com uma honestidade brutal — e muitas vezes devastadora —, “Amiga Genial” capta as nuances de uma relação que atravessa décadas, recordando-nos que, em algumas amizades, o elo entre duas pessoas pode transcender até os laços de sangue.
Esta temporada final trouxe uma mudança ousada ao renovar o elenco principal, com Alba Rohrwacher e Irene Maiorino a assumirem os papéis de Elena e Lila, respetivamente. Rohrwacher, que já dava voz a Lenú desde o início da série como narradora, oferece uma interpretação que vai além da mera aparência física, captando com precisão a essência de Elena na sua maturidade. Por outro lado, Maiorino impressiona pelos maneirismos, expressões e até pela semelhança física com a jovem Lila (interpretada anteriormente por Gaia Girace).
A transição foi tão suave que mal se deu por ela, e o maior elogio que se pode fazer às duas atrizes é que nos deixam a questionar se a mudança não deveria ter ocorrido mais cedo. As jovens atrizes são obviamente talentosas, mas em a “Amiga Genial” a violência é tanto emocional como física. E as versões mais maduras têm naturalmente uma maneira intrínseca à idade para saber lidar com os sentimentos e atritos desta altura da vida das duas mulheres (ainda que nos apeteça muito abanar a Lenú adulta no que toca ao Nino).
Em suma, a série destaca-se pelo seu olhar visceral sobre a influência inescapável da família e do passado, recordando-nos que, mesmo ao deixarmos o bairro onde crescemos, é impossível escapar ao peso das memórias e dos traumas que carregamos. E, com isso, recorda-nos também que houve boa televisão.
#4 - “Fallout”
A adaptação da aclamada série de videojogos da Bethesda não é apenas uma homenagem à cultura gamer, mas um triunfo narrativo por mérito próprio. "Fallout" transporta-nos para um mundo devastado por uma guerra nuclear, onde a sobrevivência é moldada por escolhas, consequências e a capacidade de encontrar beleza no caos. Mesmo para quem nunca jogou, a série mantém uma abordagem acessível, convidando tanto veteranos dos Vaults como novos exploradores a mergulhar neste universo distópico.
Ao longo dos oito episódios, os fatos Vault-Tec e as Nuka-Colas aqueceram certamente o coração dos gamers que conhecem a história original via videojogos, mas a verdade é que a série agradou em toda a linha e vive bem por ela própria. Tanto que fãs, críticos e público abraçaram esta aventura dos que têm e dos que não têm, num mundo onde não há quase nada para ter. Por isso, não espanta que a Prime Video se apressasse a anunciar a segunda temporada.
#3 - "Industry" (T3, Max)
Após duas temporadas a cativar um público de nicho, parece finalmente ter alcançado o reconhecimento mainstream com os novos episódios. A série continua a explorar temas atuais como sustentabilidade e ética empresarial, mantendo o foco na dinâmica tóxica de poder e ambição. Os criadores, Mickey Down e Konrad Kay, dois ex-colegas que se conheceram em Oxford e trabalharam no mundo das finanças, afinaram ainda mais a máquina nesta temporada, desenhando arcos narrativos para as personagens que superam as temporadas anteriores em todos os aspetos. E embora a HBO já tenha confirmado uma quarta temporada, o final da terceira oferece uma ousada sensação de clausura, com os protagonistas mais distantes do que nunca, o que nos leva a perguntar o que é que vão fazer agora. Porém, é precisamente este tipo de risco que define “Industry” — um drama de “sexo, drogas e altas finanças” no mundo corporativo, que continua a surpreender e a melhorar a cada episódio. Arriscamos dizer que, quase sem darmos por isso, e no meio do deboche que em muitas festas nos faz lembrar “Skins”, está a preencher (um pouco) o vazio deixado por “Succession”.
PS: Esta é uma daquelas séries que privilegiam os atores e os diálogos. Para quem aprecia esse tipo de abordagem, a terceira temporada de “Industry” é um verdadeiro banquete. O elenco inclui nomes mais conhecidos, como Kit Harington (o Jon Snow de “A Guerra dos Tronos”), e praticamente todos os atores entregam desempenhos irrepreensíveis. No entanto, é justo dizer que Marisa Abela e a sua Yasmin Kara-Hanani se destacam dos seus pares. É na sua interpretação que todas as pontas soltas da narrativa convergem, graças a uma performance que se eleva acima das restantes. A sua habilidade em captar nuances emocionais — desde explosões furiosas até momentos de desdém subtil, como a reação gelada à comparação com o pai: “Não sou nada como ele. Ele era fraco” — consolida-a como uma das interpretações mais marcantes da temporada.
2# - "The Penguin" (Max)
Num momento em que as histórias de super-heróis começam a saturar, esta série expande o universo de “The Batman” (2022) com uma abordagem refrescante, focando-se nas complexidades das personagens. Submerso em próteses, Colin Farrell volta a vestir o fat suit para interpretar o vilão Oswald Cobblepot, oferecendo um desempenho que equilibra carisma, crueldade e ambição implacável. O seu Penguin consegue ser simultaneamente desdenhoso e intimidador, evitando os clichés típicos de antagonistas. A prova maior surge no episódio final — que evitamos detalhar para não revelar spoilers —, onde Oz se estabelece como uma figura absolutamente sem escrúpulos ou redenção, mesmo quando o guião tenta, em vários momentos, humanizá-lo.
Ainda assim, não se pode falar de “Penguin” sem destacar Cristin Milioti, que dá vida a Sofia Falcone, a filha do chefe da máfia. Após 10 anos num asilo, Sofia ascende ao topo do império do crime com uma intensidade feroz e imprevisível. Desde cenas em que devora massa descontroladamente até momentos de pura vilania, Milioti entrega uma interpretação hipnotizante, cheia de vulnerabilidade cruel, que contrasta com o estilo mais extravagante de Farrell. A sua Sofia é, sem dúvida, uma das forças motrizes deste submundo do crime e uma razão incontornável para acompanhar a série.
1# - "Shogun" (Disney+)
Passada no Japão Feudal, esta mega produção foi amplamente elogiada pela crítica e arrebatou uns históricos 18 Emmy, incluindo Melhor Ator (Hiroyuki Sanada), Melhor Atriz (Anna Sawai) e Melhor Série na categoria de Drama. Nota-se que tudo no mundo desta minissérie da FX, desde o guarda-roupa até aos rituais representados, é retratado com um cuidado meticuloso e com um enorme respeito pela cultura japonesa. Algo que não acontece por acaso: Sanada, o ator principal, é também produtor-executivo, e fez questão que fossem atores japoneses a desempenhar os papéis japoneses e que a minissérie fosse um retrato fiel à realidade do século XVII.
Em suma, toda a jornada é grandiosa. As paisagens são um regalo, os cenários gigantescos acrescentam uma dimensão narrativa muito proeminente e as sangrentas sequências de batalhas são do que melhor se pode ver na televisão.
Há ainda todo o jogo político dos Senhores, intrigas, traição, amor, respeito. É um épico em toda a linha, de grande escala, que às vezes parece "A Guerra dos Tronos", outras "Succession", e que definitivamente nos transporta para esta época da história.
O sucesso da série foi tão grande que a FX e a Hulu já confirmaram a sua renovação para mais duas temporadas. A produção da segunda temporada começará em 2025, com previsão de estreia em 2026. E, por tudo isto, é a nossa série do Ano.
The End
E assim concluímos o nosso Top 10! Sabemos que “Melhor Televisão”, por definição, implica qualidade: enredos bem construídos, personagens credíveis e diálogos bem elaborados. Mas não dá para ver tudo, e a opinião nestas coisas é sempre subjetiva. Cada pessoa tem os seus critérios e preferências, o que significa que algumas escolhas inevitavelmente ficaram de fora.
Por exemplo, séries como “Somebody Somewhere”, uma comédia dramática que explora as complexidades da amizade na meia-idade, “Hacks”, com a sua abordagem mordaz ao mundo da comédia stand-up, ou até “The Bear”, que continua a captar a intensidade e os desafios do universo da restauração, foram algumas das mais acarinhadas em 2024 e poderiam perfeitamente ter integrado este Top 10.
Por isso, queremos saber: quais são as vossas favoritas? Que séries acham que deveriam ter entrado no nosso ranking? Partilhem connosco nas nossas redes sociais!
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