"O mercado americano está a melhorar bastante a nível de papéis interessantes para estrangeiros, que não sejam só o cliché do latino", explicou à Lusa, referindo-se a portugueses, espanhóis e atores de outros países que habitualmente eram escolhidos para interpretarem o mesmo tipo de personagens.
Apesar de ainda existirem certos obstáculos, a situação "está a melhorar" fruto das "revoluções do mundo artístico" que têm trazido maior abertura em relação a orientação sexual, género e país de origem.
"O que está a mudar é que há muitos papéis em que a etnia pode ficar em aberto", explicitou. "Esses papéis são interessantes, não é óbvio para a história que sejas espanhol ou português". O ator considera que tem a vantagem de um visual versátil em termos étnicos, "o que abre bastantes portas".
A residir em Los Angeles há cinco anos, Rafael Morais conseguiu com a série da Netflix a sua maior oportunidade internacional até à data, depois de uma carreira bem sucedida em Portugal, com os filmes "Um Amor de Perdição", de Mário Barroso, "Como Desenhar um Círculo Perfeito", de Marco Martins, e "Sangue do Meu Sangue", de João Canijo.
A sua intenção é trabalhar entre Portugal e Los Angeles, aproveitando "o melhor dos dois mundos", com mercados que são muito diferentes um do outro, disse à Lusa.
"Adoro LA porque há tantas pessoas com tanto talento, seja ao nível de atores, realizadores ou músicos", disse, "mas há tanta gente que vai para lá que a maior parte nunca vai chegar a fazer aquilo que quer", frisou. "Por muito talentosos que sejam, o mercado está tão saturado que é uma questão de sorte e não só de talento".
Rafael Morais acrescentou que singrar em Hollywood "é muito mais difícil do que qualquer pessoa imagina", devido à enorme concorrência e à burocracia legal, relativa ao visto de trabalho, e também na própria indústria, em que é preciso arranjar agente "para conseguir audições decentes".
Depois de entrar nalguns filmes independentes e peças de teatro, incluindo "The Constitution", de Mickael de Oliveira, com o Saudade Theatre, Rafael Morais foi selecionado para "White Lines", e está a filmar entre Maiorca e Ibiza.
O ator interpreta a versão 20 anos mais jovem do boxer que é retratado pelo português Nuno Lopes na série criada por Álex Pina, conhecido por "La Casa de Papel", e que integra também o português Paulo Pires.
O processo começou com uma 'self tape' enviada através do seu agente aos diretores de casting, que são espanhóis e ingleses, sendo 95% da série falada em língua inglesa.
"A coisa fantástica da Netflix é que existe em mais de 200 países e a série vai estrear neles todos, no mesmo dia", disse o ator à Lusa. "Não há outra plataforma no mundo que tenha esse tipo de exposição, e isso é fantástico".
Rafael Morais tem também outros projetos alinhavados para o próximo ano, como uma longa-metragem que filmará no mercado português, no final de 2020.
"Em Portugal, um ator tendo talento vai trabalhar. Pode demorar algum tempo, mas acho que é muito mais fácil", afirmou, ressalvando ainda assim que nunca pensou em desistir de LA, onde gosta do estilo de vida e onde está a maioria dos seus amigos.
"Quero continuar a trabalhar em Portugal, quero voltar a trabalhar com o Marco Martins, com o João Canijo, e também com a nova geração que está a surgir", disse à Lusa.
As gravações de "White Line" vão decorrer até outubro, altura em que Rafael Morais regressará a Los Angeles.
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